É para ser campeão sem derrotas que Sérgio Conceição está a trabalhar, garante Isidoro Sousa, presidente do Sporting Clube Olhanense, que há 11 anos proporcionou ao atual técnico do FC Porto a possibilidade de se estrear como treinador principal na I Liga portuguesa de futebol.
“O objetivo principal é ser campeão, independentemente de ter ou não uma derrota, mas, conhecendo bem o Sérgio Conceição, digo-lhe frontalmente que ele vai fazer tudo para não ser derrotado durante esta época desportiva”, declara, numa entrevista a Bola Branca, o presidente do Olhanense.
O FC Porto está em contagem decrescente para se sagrar campeão nacional pela 30.ª vez no seu longo historial. A poucos dias de uma difícil deslocação a Guimarães, Isidoro Sousa aponta a mais um sucesso dos portistas, com o Porto de Sérgio Conceição a tornar-se na primeira equipa portuguesa a atingir a marca dos 57 jogos consecutivos sem derrotas no campeonato, superando o Benfica dos anos 70, treinado por John Mortimore.
“O Sérgio até à noite sonha com as vitórias, não gosta de perder nem ao berlinde; é um ganhador por natureza. Passados uns dias de estar aqui em Olhão presenciei várias situações em que vi que estava aqui um grande treinador que iria dar passos rumo a um futuro brilhante e que, não tenho quaisquer dúvidas, irá ser ainda mais brilhante”, declara Isidoro Sousa.
Esta identificação e reconhecimento das competências profissionais de Sérgio Conceição não evitaram um turbulento “divórcio” entre treinador e presidente na época 2012/2013. Na origem da discussão entre Isidoro Sousa e Sérgio Conceição esteve a incapacidade do presidente do Olhanense para responder às exigências do treinador de ter um bom plantel, depois de uma época que ficara para a história do emblema algarvio, mas que tivera como consequência a saída do clube de oito jogadores, todos habituais titulares.
Sérgio desentendeu-se com Isidoro, agradeceu ao clube e aos adeptos, bateu com a porta, rumou à Académica, mas manteve-se fiel à sua forma de ser: frontal, não raras vezes agressivo, obstinado com as vitórias e, claro está, exigente para com os jogadores e para com os dirigentes com quem trabalha.
Hoje é um treinador com mais experiência – e títulos –, o que lhe permite falar com legitimidade reforçada. Basta recordar a insatisfação que manifestou perante a saída para o Liverpool de Luis Díaz – melhor marcador do FC Porto na primeira metade da temporada – ou a forma como, perante as lesões de Marcano e Pepe, se bateu publicamente pela contratação de mais um defesa central, que viria a ser Rúben Semedo.
“Ele exige ao presidente Pinto da Costa o melhor para o Porto. Há sempre uma condicionante financeira que, por vezes, nos leva a travar os treinadores, pois caso contrário não conseguimos chegar ao fim da época com as contas em dia”, assinala Isidoro Sousa, antes de fazer notar que a cultura de exigência é inseparável do traço identitário do treinador do FC Porto.
“Faz parte do Sérgio. Exige dele próprio, exige da equipa e exige do clube para ter uma equipa à sua imagem. Por vezes digo que o Sérgio tem o coração na boca, é um ganhador nato, conhecemo-lo como jogador. Como treinador continuará a ser assim e isso dá os seus frutos, como está à vista”, considera.
Perante uma herança assim, o dinheiro perde significado
Sérgio Conceição tem contrato com o FC Porto até junho de 2024. Desde que chegou ao clube, em 2017, conquistou dois campeonatos, duas supertaças e uma Taça de Portugal.
Esta época pode fazer a “dobradinha” juntando ao palmarés portista o 30.º Campeonato e a 18.ª Taça de Portugal. Ganhar jogos e conquistar troféus é o principal objetivo do técnico do Porto, que se mantém fiel ao compromisso que assumiu com Pinto da Costa, apesar de ser um treinador com mercado.
“Por aquilo que sei, já depois de estar no Porto, o Sérgio teve convites para ir ganhar muito mais”, declara Isidoro Sousa à Renascença.
“Entendo que ele se sente bem na sua casa. Foi no FC Porto que cresceu e se fez jogador; obviamente que isso pesa muito. O Sérgio põe à frente a vitória desportiva, independentemente da questão financeira. Vai deixar – e já está a deixar – o seu legado no FC Porto e ele não troca isso por dinheiro”, garante o dirigente algarvio que remata com uma certeza: “O próximo treinador do Porto terá de trabalhar e sofrer muito para chegar ao patamar a que o Sérgio chegou”.