A ADSE precisa de 80 mil novos beneficiários nos próximos cinco anos para compensar os que vão abandonando a instituição, segundo um estudo sobre a sustentabilidade do subsistema público promovido no ano passado pela associação dos hospitais privados.
O mesmo estudo, divulgado em finais do ano passado, mostra que um terço dos beneficiários da ADSE terá mais de 70 anos em 2022 sem a entrada de novos utentes.
Feito por uma consultora a pedido da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, o estudo identifica o envelhecimento e um maior consumo por parte dos utentes como os “principais riscos da ADSE”, sugerindo a necessidade de alargar o universo dos beneficiários, bem como criar regras para moderar o consumo.
A ADSE tem estado no centro da atenção mediática e política nos últimos dias, estando em causa a suspensão de convenções por parte de dois grupos, a José de Mello Saúde (que gere os hospitais CUF) e o Grupo Luz Saúde.
A análise feita a pedido da associação que representa os privados indica que a ADSE “tem sido sustentável”, apresentando saldos positivos, mas a manutenção da situação atual “levará a uma situação de défice a partir de 2021”.
Entre 2012 e 2017 o número de beneficiários da ADSE caiu em média 1,9% ao ano, prevendo-se que a este ritmo o subsistema tenha 1,118 milhões de beneficiários dentro de cinco anos. Para que em 2022 se atinja de novo o atual valor de 1,2 milhões de beneficiários, o estudo sugere que é preciso que entrem no sistema 82 mil.
O estudo mostra ainda que entre 2012 e 2017 o número de renúncias de beneficiários quase duplicou.
O estudo elaborado pela empresa Deloitte identifica como um dos principais riscos à sustentabilidade o padrão de consumo dos beneficiários da ADSE, que consomem em média mais 26% que os utentes dos seguros.
Utentes da ADSE ou dos seguros consomem o mesmo tipo de valências, tendo ambos como utilizações mais frequentes as consultas, seguidas da imagiologia. Contudo, o consumo pelos beneficiários da ADSE é superior.
Os utentes com ADSE têm uma média de 6,7 episódios por ano, enquanto no caso dos utentes dos seguros a média é de 5,3.
É recomendado pela análise encomendada pela hospitalização privada que seja promovida uma “moderação de consumo”, nomeadamente através de mecanismos de regulação, rejeitando que um corte nos preços pagos pela ADSE resolva as questões da sustentabilidade.
A estrutura etária mais envelhecida dos utentes da ADSE em comparação com os dos seguros é uma das explicações para os “consumos mais elevados”.
Aliás, o estudo alerta que, caso não entrem novos beneficiários, a estrutura etária vai envelhecer, conduzindo a um aumento dos níveis de consumo, o que terá impacto na despesa da ADSE.
Quanto à parte financeira, a ADSE mostra-se sustentável por enquanto. Em 2017, as receitas foram de 619 milhões de euros e os custos de 561 milhões, com um excedente de 66 milhões.
Contudo, as previsões do estudo apontam para um défice num futuro próximo, com um saldo negativo de 17 milhões em 2022.
A ADSE, que desde 2012 é um subsistema autossuficiente e sem financiamento do Orçamento do Estado, vive das contribuições dos seus beneficiários. Atualmente, 5,2% de titulares estão isentos de pagamento.
O estudo da Deloitte promovido pelos hospitais privados recorreu aos planos de atividade e relatórios de conta públicos da ADSE e ainda a uma amostra anonimizada de cidadãos em que metade são beneficiários da ADSE e outra metade tem seguro de saúde.