Espanha está mergulhada num impasse governativo e "refém" de duas regiões com partidos nacionalistas e independentistas, a Catalunha e o País Basco, diz à Renascença Diogo Noivo, especialista em assuntos hispânicos.
Esta quinta-feira é um dia decisivo para o futuro político em Espanha. Depois das eleições legislativas de 23 de julho, que deixam um enorme ponto de interrogação sobre quem vai formar Governo, já que ninguém tem maioria absoluta, os deputados tomam posse no Parlamento espanhol.
Além disso, vão ser escolhidos o presidente e os vice-presidentes da mesa do Congresso dos deputados.
Em declarações à Renascença, Diogo Noivo, especialista em assuntos relacionados com Espanha, acredita que essa votação vai demonstrar quem tem mais probabilidades de formar Governo.
“Vamos ter oportunidade de ver qual dos blocos, o bloco de partidos de direita ou o de esquerda, terá a capacidade de reunir o maior número de deputados e, por essa via, controlar a mesa do Congresso. É a primeira oportunidade que temos para perceber se Espanha terá um Governo de direita, um Governo de esquerda ou se terá de voltar às urnas”, explica Diogo Noivo.
Em declarações à Renascença, o analista de risco político considera que os partidos independentistas da Catalunha e do País Basco vão ser decisivos para perceber o futuro.
“É difícil avançar com probabilidades. O conjunto de partidos à esquerda tem 166 deputados, o conjunto de partidos à direita tem 171. Visto que a maioria absoluta se faz com 176, os partidos de direita estão mais próximos da maioria absoluta. Acontece, porém, que há dois grandes partidos, o Junts, que é um partido separatista catalão, e o PNV, que é o Partido Nacionalista Basco, que podem fazer com que a solução de Governo penda para a direita ou para a esquerda”, afirma.
Em dia de formação da mesa do Congresso, vai ser “muito importante” ver o que vão fazer o Junts per Catalunya e o PNV, “porque em grande medida isso vai determinar o que acontecerá em matéria governativa”, sublinha Diogo Noivo.
O Partido Nacionalista Basco disse, inicialmente, que não apoiaria o Partido Popular, a direita, “mas na últimas horas fez declarações equívocas que, porventura, poderia voltar atrás com o que tinha dito previamente”.
“O Junts, liderado por Carlos Puigdemont, que é um fugitivo da justiça espanhola, está a vender-se por um preço muito elevado, tem sido absolutamente crítico, não sabemos se votará à direita ou à esquerda, se optará pela abstenção”, refere Diogo Noivo.
Para o especialista, “essencialmente, temos Espanha, o conjunto do território espanhol, nas mãos de dois partidos de duas províncias, um do País Basco e outro da Catalunha”.
“Temos um território inteiro, plural, que acaba por estar refém de duas comunidades autónomas, em particular da Catalunha”, sublinha.
Se Pedro Sánchez voltar a formar Governo vai ficar “ainda mais dependente” dos partidos independentistas e agravar a situação vivida nos últimos quatro anos, adverte Diogo Noivo.
Este especialista em relações internacionais antevê que tanto um governo de esquerda como um governo de direita vão ser instáveis. No entanto, acredita que uma eventual coligação encabeçada pelo PSOE “seria mais instável” por depender de partidos nacionalistas e independentistas.
Nas eleições legislativas de 23 de julho, o Partido Popular (PP), de Alberto Nunez Feijóo, foi o mais votado, mas falhou o objetivo da maioria absoluta.
O PP conquistou 136 lugares no Parlamento. O PSOE ficou em segundo lugar, com 122 deputados.