Perante reclusos, Papa critica "murmuração e bisbilhotice" que "esmaga e condena"
25-01-2019 - 15:59
 • Aura Miguel , no Panamá, com redação

Num centro correcional de menores, Francisco deixou críticas à "cultura do adjetivo que desqualifica as pessoas". "Somos mais do que os rótulos que nos dão", lembrou aos reclusos.

“Cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão”. Esta foi a mensagem que o Papa Francisco deixou aos jovens reclusos do Centro Correcional de Mores Las Garzas de Pacora, no Panamá, onde vivem cerca de 150 jovens, a maioria deles menores.

Francisco lamentou ver uma sociedade que prefere um olhar “estéril e infecundo – o da murmuração e bisbilhotice”, em vez daquele que “que convida à transformação e conversão – o do Senhor”.

“Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!”, afirmou o Papa.

Francisco deixou críticas à "cultura do adjetivo que desqualifica as pessoas". “Adoramos adjetivar as pessoas”, lamentou o Papa, lembrando que os rótulos, “em última análise, nada mais produzem senão divisão: daqui os bons, além os maus; daqui os justos, além os pecadores”.

“Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas”, explicou.

O Santo Padre lembrou que Jesus pede o contrário. “O seu olhar desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação”.

“Comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível”, explicou o Papa.

Francisco deixou conselhos aos reclusos: “Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam”.

“A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa – nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries, não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui. Aqui? Sim, aqui”.

Francisco lembrou a importância de a sociedade “fazer festa pela transformação dos seus filhos”. “Uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se rende e volta a tentar. ”.

No fim da cerimónia, o Papa confessou cinco dos jovens presentes no centro correcional de menores.