"Só Agora Começou" é o título do mais recente livro de José Sócrates, que será publicado dias depois de ter sido conhecida a decisão instrutória da operação Marquês. Nele, o ex-primeiro ministro acusa a atual direção do Partido Socialista de traição e critica a investigação criminal de que foi alvo, revela este domingo o Diário de Notícias.
"A política ama a traição, mas despreza o traidor", escreve o antigo dirigente do PS, citando uma frase do político brasileiro Ulysses Guimarães.
"Neste momento em que escrevo nada sei da decisão que o tribunal tomará, nem quando o fará. Sei apenas que o livro será publicado, seja ela qual for. Quando lá fora se organizam para te difamar e lançar peçonha sobre tudo o que disseste ou fizeste, é preciso crer em ti com toda a força de alma. Nada possuir e a nada estar agarrado - eis a melhor posição no combate", lê-se na introdução do livro, entregue à à editora em 2018.
A publicação conta com um prefácio assinado por Dilma Rousseff, ex-Presidente do Brasil. A antiga líder brasileira traça um paralelo entre a situação de Sócrates e a de Lula da Silva.
"A história [de Sócrates] é inacreditável, mas não ocorreu de maneira inédita. Está no manual do 'lawfare' usado rotineiramente contra líderes políticos. O uso da lei como arma de destruição civil e criminal de líderes políticos, caracterizando o que ficou conhecido como justiça do inimigo", resume Dilma, presidente brasileira de 2011 a 2016, ano em que foi alvo de um impeachment e foi substituída por Michel Temer.
Para lá das críticas à justiça, ao partido e ao jornalismo português, que tem vindo a reforçar desde 2015, Sócrates enumera, ainda, três documentos em sua defesa. O primeiro é a auditoria realizada pela Inspeção-Geral de Finanças à empresa Parque Escolar, ordenada já pelo Governo Passos Coelho e publicada em dezembro de 2011.
O segundo é o acórdão de 2016 de um tribunal arbitral constituído para verificar a legalidade de uma cláusula no contrato do TGV. E o terceiro, o relatório da comissão de auditoria da Portugal Telecom (PT) de julho de 2014.
O último dos capítulos, "Peões no Jogo dos Outros", é dedicado ao juiz português Carlos Alexandre, com uma comapração ao ex-juiz brasileiro Sérgio Moro.
"Moro e Alexandre. Há um fio que os une e que é produto de um certo storytelling - essa ambição que as televisões, na verdade, nunca abandonaram: somos nós que criamos os personagens. Certo: a Globo dá a Moro o prémio de personalidade do ano; a SIC faz uma entrevista de vida a Carlos Alexandre. O guião é o mesmo, variando apenas o argumento para dar expressão ao gosto local, um pouco mais glamoroso ali, um pouco mais triste e manhoso aqui. Une-os uma certa visão heroica da história e um forte sentido de oportunidade".
A decisão instrutória da Operação Marquês foi conhecida esta sexta-feira. O ex-primeiro-ministro não foi pronunciado pelos crimes de corrupção e foi ilibado de irregularidades na Parque Escolar e concurso do TGV para o troço do Poceirão. Sócrates vai ser julgado por três crimes de branqueamento de capitais e três falsificação de de documentos. O megaprocesso veio a público há sete anos.