A crise dos migrantes e refugiados está a transformar a Líbia num mercado de escravos, em pleno século XXI.
De acordo com a CNN e com a revista “Newsweek”, há migrantes e refugiados oriundos da África subsaariana que são leiloados por 400 dólares (cerca de 340 euros), caso não consigam pagar o resgate exigido pelas redes de tráfico.
Estes grupos, em vez de garantirem a entrada dos migrantes em solo europeu, exploram-nos ao limite para fazer mais algum dinheiro.
Uma realidade da Líbia pós-Kadaffi que é, desde o ano passado, a principal plataforma para migrantes e refugiados tentarem chegar a solo europeu.
Em declarações à Renascença, Cristina Santinho, investigadora do Centro de Estudos de Antropologia do ISCTE, responsabiliza não apenas o estado a que a Líbia chegou após o período da Primavera Árabe, mas também a União Europeia que, "de uma forma geral, evita a entrada legal de migrantes e de refugiados para a Europa".
Contudo, esta especialista lembra que "não há tampões que se coloquem na União Europeia, na Turquia ou noutro local qualquer", porque "quando a situação é insustentável nos países de origem, trata-se de uma necessidade de sobrevivência e eles vêm cá parar à mesma".
Para Cristina Santinho, "aí reside a indignidade da questão, porque o problema é que estes migrantes chegam à Europa em condições sub-humanas". E aí, "há que fazer escolhas: ou recebemos esta gente com a dignidade que lhe é devida, ou então continuaremos a alimentar esta dicotomia do 'nós e eles' e este problema nunca mais acaba", conclui.
Na última semana, a Organização Internacional das Migrações (OIM) indicava que o maior número de mortes de migrantes já ocorre no deserto do Saara e não no mar Mediterrâneo.
Um cenário difícil de adjectivar, diz Cristina Santinho: " é muito mais do que deprimente, é algo que nos remete para pensarmos sobre o que andamos a fazer como seres humanos".
Apesar das muitas diferenças em relação a algumas épocas do passado, "os princípios de perversidade, de ganância e desrespeito por pessoas - que nem sequer são consideradas pessoas - acontece em todos os contextos".