A proposta do candidato republicano Donald Trump à Casa Branca de "impedir temporariamente" os muçulmanos de entrar nos Estados Unidos, "põe em perigo" a segurança do país, considera o chefe da diplomacia norte-americana, John Kerry.
"Isto põe em perigo a segurança nacional porque esta proposta indica a vontade de um norte-americano, candidato ao mais alto cargo do país, de discriminar toda uma religião", declarou o secretário de Estado, numa entrevista à cadeia de televisão ABC.
"Este tipo de proibição é contrária aos valores norte-americanos e à nossa Constituição e penso que isso é uma política estrangeira muito perigosa tendo em vista aqueles que, no mundo islâmico, tentam explorar a população e recrutar combatentes estrangeiros: vejam na América há um tipo que faz guerra contra o Islão", explicou numa segunda entrevista difundida esta manhã no programa "Face the Nation" na CBS.
"É esta impressão que pode ser explorada (...) e permitir o recrutamento (...) por deixar pensar que os Estados Unidos são verdadeiramente discriminatórios em relação ao Islão e aos muçulmanos", acrescentou o chefe da diplomacia norte-americana.
Esta proposta de Trump "é extremamente discriminatória em relação a vários norte-americanos e outros que são muçulmanos e muitas pessoas no mundo que sabem que a sua religião foi desviada e querem recuperá-la", disse.
"Penso que, em termos de política externa, isto tem um enorme impacto negativo, como os comentários que ouvi de ministros dos Negócios Estrangeiros e outros responsáveis nas minhas viagens e ao falar com pessoas de diversos países", concluiu John Kerry.
A ideia de uma discriminação religiosa proposta por Donald Trump, que continua a liderar a corrida à investidura pelo Partido Republicano para as presidenciais de Novembro de 2016, desencadeou uma onda de reacções em todo o mundo, de Washington ao Cairo, passando por Londres e pela ONU.
Centenas de milhares de britânicos assinaram uma petição para proibir a entrada de Trump no país, enquanto o milionário e membro da família real saudita, o príncipe Al-Walid ben Talal, afirmou na sexta-feira que Donald Trump era "uma vergonha" para "todos os Estados Unidos".
Trump fez esta proposta, de proibir os muçulmanos de entrar nos EUA, no início da passada semana, na sequência da morte de 14 pessoas no tiroteio em São Bernardino, na Califórnia.
A polícia federal norte-americana garantiu que o casal de assassinos era muçulmano e "radicalizado há bastante tempo" e as suas acções foram planeadas.