O hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, está a usar médicos especialistas e internos em formação para tapar buracos em escalas de urgência, denunciou nesta quarta-feira o bastonário da Ordem dos Médicos.
No final de uma visita àquela unidade hospitalar, Carlos Cortes revelou que “estão a ser escalados médicos internos no início do internato, e a escala, a equipa de urgência, é constituída por um único médico para dar apoio, na área da medicina interna, a 60 doentes internados.”
Considerando que “os doentes internados são, normalmente, doentes complexos, com situações de descompensação que também podem ser graves”, o bastonário alertou que este tipo de casos “um médico interno de hematologia ou de oncologia não sabe resolver”.
Para o bastonário, esta é uma situação que tem impactos diretos para os doentes porque não recebem o atendimento devido, e para os próprios médicos que, em vez de receber formação, estão no terreno, enfrentando cuidados que não são os seus.
No terreno, Carlos Cortes percebeu também dificuldades na constituição de equipas para a maternidade.
Situação na maternidade é "incomportável"
As equipas têm números abaixo do recomendado e a situação “é incomportável”, dada a pressão existente.
“Não há médicos de todas as especialidades, medicina interna, cirurgia, ortopedia e ginecologia obstetrícia, na pediatria. Quando um hospital tem de suportar a resposta às grávidas de duas áreas de influência, obviamente há uma pressão muito grande” devido à falta de recursos humanos.
Por isso, “estamos a ter reuniões com a direção do serviço para analisar essa situação”, que “está remetida para o conselho regional do sul da ordem dos médicos, que está a tratar diretamente com a administração do hospital”.
Bastonário quer "ação e não acordos"
Questionado sobre a sugestão do novo bastonário da Ordem dos Enfermeiros de haver um pacto no setor, Carlos Cortes respondeu que quer ação e não acordos.
“Mais do que acordos, mais do que pactos, mais do que promessas, mais do que intenções, quero concretização, quero ação. Eu quero um Ministério da Saúde e um governo com coragem para resolver os problemas do serviço nacional de saúde.”
As soluções, disse Carlos Cortes, “todos nós já as conhecemos, sabemos que temos de criar melhores condições de trabalho para os médicos e para todos os profissionais de saúde do setor que trabalham nos hospitais e nos centros de saúde, sabemos que temos de valorizar mais a carreira dos médicos.”
“O que falta é termos dirigentes políticos capazes e com vontade de executar e concretizar aquilo que é necessário para o SNS”, adiantou o bastonário.
Quanto à garantia dada nesta quarta-feira pelo ministro da Saúde de amanhã serem publicadas as respostas à questão da dedicação plena nas Unidades de Saúde Familiares, o bastonário da Ordem dos Médicos sublinhou que o caminho não deve ser esse.
Relativamente ao anúncio feito pelo Ministério da Saúde de abrir mais 561 camas de cuidados continuados, Carlos Cortes referiu que “quando elas aparecerem, acho que é um passo positivo”.
Todavia, “tem de haver uma aposta que também não tem sido desenvolvida pelo Ministério da Saúde na área dos cuidados continuados e também na área social, muitas vezes é esquecida, que é a dos lares, que deviam ter também mais apoio médico”.
Por outro lado, há que considerar também “os doentes que estão no seu domicílio e muitas pessoas idosas que estão sozinha no seu domicílio”, ou seja “tem de haver aqui uma resposta conjugada de todos estes níveis de cuidado”.
Considerando que “nos próximos meses, vamos ouvir muitas promessas” e “todas as soluções possíveis para, em pouco tempo, resolvermos todos os problemas e as dificuldades do serviço nacional de saúde”, Carlos Cortes frisou que quer é “ver ações concretas e não promessas”.