​“Mostrar violência, promove mais violência”?
25-10-2024 - 18:24
 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo

Os desacatos na Grande Lisboa, os últimos episódios da novela do Orçamento de Estado, o congresso do PSD e a polémica das aulas de Cidadania são alguns dos temas em destaque nesta edição das Novas Crónicas da Idade Mídia.

Noites consecutivas de tumultos violentos na Grande Lisboa, desde 2ªfeira (21), na sequência da morte de um cidadão devido ao “excesso de legítima defesa” de um jovem agente da PSP, para usar a expressão da PSP para caracterizar o uso desproporcionado da força. Autocarros e automóveis incendiados, contentores do lixo incinerados, tiros e cocktails Molotov, dois polícias feridos, um motorista de Carris em estado muito grave, cidadãos detidos, bairros sitiados. A violência, que começou com a ação policial na Cova da Moura, alastrou ao Bairro do Zambujal (também na Amadora), ao Bairro da Portela, em Carnaxide (Oeiras), Sintra, Queluz, Loures, Odivelas, Santo António dos Cavaleiros e já galgou o rio até ao Monte da Caparica e próximo do Seixal. O Governo mobilizou todos os efetivos disponíveis para repor a ordem e segurança públicas.

“Mostrar violência, promove mais violência”, é uma frase batida que Isaltino Morais repetiu em declarações aos Media. As televisões não deviam mostrar o que estava a acontecer?
Apesar de algum excesso de linguagem e de exposição dos repórteres, a cobertura das televisões foi equilibrada. Não sendo inédita a reação contra jornalistas em algumas situações de indignação popular, o relato de Carolina Resende Matos, da CNN, sobre a intimidação de que foi vítima contém uma violência nunca vista e uma impunidade que indicia o pior.
A repórter estava identificada e recolhida dentro do carro da TVI, devidamente caracterizado, mas apesar disso a ação direta de um grupo de jovens encapuzados contra a jornalista manteve-se.

Também no terreno da comunicação, os grupos organizados dos bairros estão claramente a ser mais eficazes do que a polícia. O auto de notícia da PSP é desmentido pela informação da PJ sobre o relato feito pelos dois agentes; os “bairristas” usam as redes sociais para incitar à revolta e à violência, ameaçando avançar sobre o centro de Lisboa. O Governo só esta quinta-feira (24) convocou os autarcas da região da Grande Lisboa. Bloco e Chega confrontam-se no Parlamento, com acusações mútuas, muito para lá do razoável, algumas mesmo a raiar a absoluta irresponsabilidade.

A novela do Orçamento do Estado terminou com o extraordinário anúncio de Pedro Nuno Santos de que o PS se absterá na votação na generalidade e, para não haver dúvidas, na votação final global. E avisou que não vai discutir nada na especialidade. O espetáculo deplorável sobre o número de reuniões entre os líderes partidários e o que foi dito nesses encontros vai continuar? Ou, como diz António Capucho ao Público (16), “acabou-se a brincadeira”? Esperemos.

Das sete medidas apresentadas em Braga, no Congresso do PSD, o que passou para a discussão no espaço público foi a revisão do programa da disciplina de Cidadania. Foi sobre isso que os comentadores das televisões se entretiveram a discutir.
Parece cada vez mais evidente que há um equívoco recorrente na comunicação de Montenegro. Sempre que tem planos ou medidas importantes a revelar, junta-lhe qualquer coisa para desviar a atenção do essencial. Aconteceu no plano para os Media com a ideia peregrina dos auriculares, dos telemóveis e do jornalismo ofegante; agora, com a disciplina de cidadania. Havia necessidade? Montenegro não deveria separar nas suas comunicações o que é importante do que é irrelevante ou deslocado para o momento? Não estará o primeiro-ministro prisioneiro do “discurssismo” ofegante? A verdade é que a intenção de rever o programa da disciplina de Cidadania lhe valeu uma ovação como não se via há muito nos conclaves social-democratas.

Marco Paulo morreu de ”doença prolongada”, anunciou a Antena 1 esta manhã de quinta-feira (24), como se vivêssemos no século passado. Não, o cantor morreu vítima de cancro, que combateu com tenacidade e coragem durante vários anos. Os Media desformataram as suas programações e produziram programas e emissões especiais para evocar a vida e obra do artista.

A Unesco distinguiu António Costa com o Prémio Houphouet-Boigny, a que os media nacionais não deram particular relevo. O Prémio Sakharov foi para a oposição venezuelana. Afinal, o PS não convidou Fernando Araújo para candidato à Câmara do Porto. O Público aceitou desmentir a sua própria notícia. Só não acontece a quem não trabalha.

No suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas e outras histórias, na receção aos evacuados de Beirute, em Figo Maduro, os jornalistas e os assessores do ministro Rangel podiam ter acesso à placa para receber os refugiados junto ao avião. Então e o ministro não podia ir a placa? Porquê? O MNE é perigoso? Guterres foi a Moscovo cumprimentar Putin, não comentou a eliminação do líder do Hamas, qual é a estratégia do secretário-geral da ONU? Os Media assistiram ao Tribeca Festival? Parece que só os meios digitais contaram o que viram. O plano da ferrovia contabiliza 36.600 dias de atraso; o plano de execução das linhas do Metro, uns modestos 18 meses que podem ser 36. Portugal é extremamente bem organizado nos atrasos.