É o mais recente alerta da UNICEF: está atrasada a concretização de dois terços dos indicadores globais sobre direitos das crianças. O que é que isto significa?
Significa, desde logo, que há universo muito significativo de crianças que podem estar risco. Estamos a falar de dois mil milhões de crianças de 140 países que correm o risco de continuar a viver na pobreza, em situações de desigualdade e à mercê de conflitos para além de 2030, que é a meta definida pela UNICEF para erradicar estes problemas.
Se nada for feito para alterar este rumo, dentro de 7 anos, apenas 60 países terão conseguido cumprir esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Até esta altura, apenas 6% da população infantil (ou 150 milhões de crianças) de 11 países têm contempladas metade das metas.
E o que diz esse relatório sobre Portugal?
Em declarações à Renascença, Beatriz Imperatori, diretora executiva da UNICEF Portugal, diz que Portugal tem indicadores “muito positivos”. No entanto, a grande preocupação é a pobreza que atinge, em particular, os agregados com filhos no nosso país. Nomeadamente, com o impacto da inflação nas condições básicas de vida das pessoas - por exemplo, o impacto que tem nas condições da habitação em que as crianças vivem.
Mas não há aspetos positivos a realçar neste relatório?
Sim, há aspetos positivos e, no caso português, a UNICEF realça os indicadores muito positivos na saúde. O Fundo das Nações Unidas para a Infância sublinha os resultados conseguidos na redução da mortalidade infantil ou no aumento das taxas de cobertura de vacinação. Mesmo assim, a UNICEF deixa um alerta: é preciso reorganizar o Serviço Nacional de Saúde e dotá-lo de mais meios.
O que é preciso fazer para inverter este cenário tão preocupante a nível global?
A UNICEF diz que é fundamental um forte compromisso dos países de baixo rendimento - com políticas eficazes e financiamento adequado de apoio às crianças. Estamos a falar de países como o Camboja, Índia, Marrocos, Ruanda e Uganda. São países, diz a UNICEF, que ainda têm muito caminho a percorrer para alcançar as metas e que precisam acelerar estas políticas em ritmos "historicamente sem precedentes".
Isto porque, os dados mostram que investir nos direitos das crianças traz efeitos positivos para toda a sociedade e para o próprio planeta. As intervenções nos primeiros anos de vida das crianças são as que mais contribuem para erradicar a fome, pobreza, falta de saúde e as desigualdades.