A brasileira Joyce Cândido, que tem por estes dias a rodar em Portugal o dueto “Queria morar num boteco”, com António Zambujo, numa daquelas canções inspiradas no confinamento pandémico, é um dos nomes em destaque no cartaz da 43.ª edição do Festival Internacional de Música de Paços de Brandão (FIMUV).
A cantora, pianista e bailaria de 37 anos, que tem tido boas referências de grandes nomes da chamada Música Popular Brasileira (MPB), como Chico Buarque, de quem recebeu uma canção, atua este sábado no Cineteatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira.
Joyce Cândido estudou música em conservatórios e após concluir a formação superior no Brasil passou dois anos em Nova Iorque a cantar e dançar nos palcos da Broadway, afirmando-se como uma das revelações da nova geração do samba.
Vem a Santa Maria da Feira fazer o primeiro concerto depois da paragem forçada motivada pela quarentena num regresso emotivo a Portugal, país natal dos avós.
A cantora brasileira retoma, assim, uma carreira internacional já com presença regular em vários palcos, especialmente na Europa e Japão, onde tem vindo a espalhar a magia do samba.
Em Portugal, deverá percorrer o seu reportório de sucessos (“Samba e Amor” ou “Deixa a menina”) e até uma versão de Caetano Veloso (“Reconvexo”, homenagem a Maria Bethânia), mas também antecipar algumas canções do novo album, o sexto, intitulado "Samba Nômade".
“Fiquei muito feliz por este show não ter sido cancelado. É o primeiro que farei desde que a quarentena começou. Sigamos, com todo cuidado, e com muita música”, disse Joyce Cândido em jeito de agradecimento.
O FIMUV é organizado pelo Círculo de Recreio, Arte e Cultura de Paços de Brandão (CiRAC) que espelha o gosto e cultura músical de uma vila marcada pela ligação ancestral às indústrias papeleira e de transformação da cortiça.
A direção artística de um dos mais antigos festivais mais antigos do país sem interrupção, mantém-se a cargo do violinista Augusto Trindade. “Há algo muito importante para nós que é termos um cartaz de grande qualidade, diferenciador. Este ano, sentimos uma dificuldade acrescida, que todos nós sabemos, mas isso deu-nos mais força, para não ser cancelado. Adiámos alguns espectáculos que requeriam mais apoio e para os quais estávamos dependente da bilheteira”, explicou.
A 43.ª edição foi reagendada e readaptado ao calendário dos solistas estrangeiros convidados devido à pandemia, sem abdicar de uma amostra dos “melhores intérpretes da cena musical erudita contemporânea”, especialmente portugueses mas não só.
Entre os nove espetáculos do programa que se prolonga até 21 de novembro (sete dos quais de entrada livre), haverá música sinfónica, jazz, world music, grupos corais, orquestras e dança em salas de lotação reduzida para um conjunto de aparições que a organização assume como de “resiliência cultural” numa fase de regresso aos eventos culturais ainda muito condicionada.
No cartaz merece destaque, para além do concerto inaugural, a homenagem aos 50 anos de carreira do maestro e clarinetista António Saiote, e a celebração dos 250 anos do nascimento de Beethoven pela Orquestra Filarmónica Portuguesa e pela violinista japonesa Sayaka Shoji.