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Num discurso marcado pela "imagem do oceano" e a importância da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, Francisco não esqueceu grandes nomes da literatura portuguesa, nem tão pouco da fadista Amália Rodrigues.
"Não muito longe deste lugar, no Cabo da Roca", destacou o Papa no Centro Cultural de Belém (CCB), "está gravada a frase dum grande poeta desta cidade: «Aqui... onde a terra se acaba e o mar começa»", parte do canto III, estrofe 20 d'Os Lusíadas.
Como escreveu Luiz Vaz de Camões:
"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente."
Estava dado o mote para um discurso centrado no papel que Portugal e a Europa podem desempenhar no mundo global, sempre marcados pelo "oceano" do qual "Lisboa conserva o abraço e o perfume".
"Faço meu, com muito gosto, aquilo que os portugueses costumam cantar: «Lisboa tem cheiro de flores e de mar»", uma estrofe assinada por César de Oliveira, em 1972, e eternizada na canção "Cheira bem, cheira a Lisboa", musicada por Carlos Dias e eternizada nas memórias dos portugueses por Amália Rodrigues.
Dirigindo-se às autoridades, representantes da sociedade civil e diplomatas portugueses, o Papa continua com uma análise desse mar cujo cheiro permeia Lisboa, invocando palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen.
"Muito mais do que um elemento paisagístico, o mar é um apelo que não cessa de ecoar no ânimo de cada português, podendo uma vossa poetisa celebrá-lo como «mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim»."
É uma referência ao poema "Mar Sonoro", incluído na Obra Poética I de Sophia:
"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente."
Numa Lisboa "abraçada pelo oceano", que oferece a todos "motivos para esperar", o Papa invoca "algumas palavras ousadas de Fernando Pessoa": «Navegar é preciso; viver não é preciso (...); o que é necessário é criar.»
O afamado verso integra a obra poética "Navegar é preciso", mas na verdade não é originalmente pessoana; é, sim, uma linha que o poeta foi buscar a um discurso do general romano Pompeu.
A fechar as citações, Francisco vai beber ao livro "Todos os Nomes", publicado por José Saramago em 1997, quiçá encerrado nessa derradeira citação o seu grande chamamento aos jovens da JMJ:
"O que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto."