Quando esta sexta-feira começar a cimeira europeia, muitos de nós estaremos convencidos que a (eventual) tomada de decisões sobre o proposto plano de recuperação será um (na realidade “o”) tema de que dependerá o futuro da União. Talvez, mas, na verdade, apesar da sua inegável importância, pode não ser o plano, neste momento, o tema crucial.
Também estou convencido que a União está por um fio. Mas por uma outra razão que só parcialmente poderá ser resolvida pelo plano de recuperação.
Essa razão é, mais uma vez e como sempre, o endividamento de parte significativa de estados europeus, principalmente do sul e ocidente do continente.
A questão do endividamento que, depois de estar convenientemente escondida desde o início do século, surgiu com toda a crueza na crise de 2008, não chegou a ser resolvida nem sequer a estar bem encaminhada quando este ano se desencadeou a pandemia.
A profunda recessão que a Europa atravessa faz aumentar de forma impensável o peso do endividamento naquelas economias que, nesse aspecto, são mais vulneráveis. Não é só o efeito aritmético da relação dívida/PIB que bem espelha esse aumento. É o dia-a-dia dos estados, das empresas e das famílias que se vai tornando cada vez mais difícil e vai criando todas as condições para uma explosão social grave.
Não devemos confiar demasiado na rapidez da futura recuperação quando a pandemia acalmar. Essa é sem dúvida uma esperança, mas não mais do que isso, embora a existir um plano de recuperação ele possa ser uma ajuda. E a verdade é que não sabemos se as agências de rating não vão duvidar da recuperação e não começam a reduzir o rating dos países mais endividados.
Por isso, na cimeira, o elefante na sala é o endividamento e a forma como a União em, particular a zona euro, vai lidar com o problema. Sendo certo que dificilmente a União conseguirá manter-se se a situação se vier a descontrolar numa economia de grande dimensão.