O bastonário da Ordem dos Médicos diz que está longe de ser suficiente o reforço anunciado pelo Governo no campo da saúde, no ano que vem. O sector vai ter mais 235 milhões de euros, mas precisava de mais 1.200 milhões, defende o bastonário da Ordem dos Médicos.
“Temos um financiamento do Serviço Nacional de Saúde mais ou menos de 5,8% do nosso magríssimo Produto Interno Bruto. A média dos países da OCDE, 6,5%. O que nós temos proposto é que, pelo menos, se gaste na saúde pública em Portugal o mesmo que na média dos países da OCDE”, refere José Manuel Silva, convidado do programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, esta terça-feira.
“Precisávamos mais cerca de 1.200 milhões de euros e era para resolver as situações mais dramáticas”, sustenta.
“Com 300 milhões que vão parte para a inflação, parte para a reposição salarial, os doentes não vão ver mais dinheiro, infelizmente”, acrescenta, dizendo ainda que sempre que se compra um aparelho novo para um hospital se “faz uma grande publicidade, parece que se resolveram os problemas do Serviço Nacional de Saúde, mas não. É mais marketing do que realidade”.
E a realidade diz que “vai haver menos dinheiro [em 2017] do que em 2016”. Porque, “sim, é verdade que o financiamento da saúde para 2017 vai aumentar, mas comparativamente com a despesa consolidada da saúde de 2016 vai aumentar cerca de 1,1% e esse valor não é suficiente para compensar a inflação e para a reposição salarial”.
“Aliás, com esta cativação de verbas e com a retirada total de capacidade de decisão aos hospitais, tudo centralizado no secretário de Estado para autorizar qualquer despesa de investimento, percebemos a que nível vai o desespero orçamental”, destaca.
Por tudo isto, José Manuel Silva diz que o fim anunciado da austeridade ainda não chegou à saúde e os problemas na saúde não se resolvem “com pensos ou paliativos”.
“Até porque o grave subfinanciamento da saúde vai entrar no sexto ano consecutivo e, portanto, os problemas são cada vez mais graves. Não há a devida manutenção das instalações, não há a devida actualização dos equipamentos”, afirma.
Como exemplo, o bastonário dá “o hospital de Beja, que está à espera de uma ressonância desde 2004. Tem neste momento só um aparelho de TAC que está a avariar constantemente. Não tem um aparelho novo porque não há dinheiro no país para comprar um mamógrafo e um ecógrafo actualizado. É o único hospital público do distrito de Beja e isto reproduz-se de uma forma mais ou menos generalizada por todo o país”.
José Manuel Silva mostra-se, assim, pouco optimista e garante: “Já não tenho idade para ficar contente com promessas”.