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Assunção Cristas propõe ao CDS que vá sozinho às legislativas. Em entrevista ao programa “Hora da Verdade” da Renascença, diz que tem “acompanhado muito ao longe” a campanha do PSD e que espera que os portugueses “olhem para as pessoas”, se as ideias forem parecidas, no momento de votar. Depois, há espaço para um entendimento à direita.
Consensos com o Governo não, porque António Costa não quer - e o CDS “tornou-se mais incómodo” com o resultado de Lisboa, afirma a líder centrista.
Assunção Cristas reconhece que as pessoas “têm mais dinheiro no bolso”, mas promete lutar para desfazer o que diz ser “uma ilusão”.
Porque é que é tão difícil ao CDS falar com o PS?
Porque o PS escolheu a forma como quer trabalhar. E quer trabalhar com o PCP, Bloco de Esquerda e com o Verdes. E não tem nenhuma vontade de estabelecer pontes, pelo menos com o CDS. E tem que haver uma alternativa a esta governação, que tem que ser do centro-direita. Faz sentido que seja com o PSD, que é o parceiro natural com quem temos uma história em comum.
Começou o seu mandato no CDS dizendo que o partido devia ir sozinho às legislativas de 2019. Mas o CDS tem um congresso em Março, o PSD vai mudar de líder e o método eleitoral favorece as coligações. Admite que ir coligada com o PSD, que diz ser o seu "parceiro natural"?
Nós vamos ter congresso e isso vai ser discutido. Mas o que vou propor na minha moção é exactamente manter essa linha. Porquê? Porque entendo, olhando historicamente, foi nos momentos em que PSD e CDS estiveram separados que tiveram os melhores resultados. Acredito que é possível maximizar o resultado do centro-direita com dois partidos a disputarem eleições - e a conseguirem chegar a um leque mais alargado de pessoas. E, portanto, pré-eleitoralmente as coisas são para mim muito claras. Pós-eleitoralmente também: faz sentido haver uma alternativa com estes dois partidos.
Rui Rio e Santana Lopes dizem que querem recentrar o PSD. O que é que, assim sendo, vai distinguir o PSD do CDS? E para onde vai o CDS?
Não olho para o que está ao meu lado, sigo em frente. A nossa estratégia está definida e não muda consoante o que outros possam vir a fazer.
O PSD é um partido com mais votos que o CDS e, indo separados, o CDS tem que dizer alguma coisa de diferente do PSD.
Ou o PSD diferente do CDS. Mas serem parecidas não é mau, porque depois nos podemos entender bem a seguir. Nós temos pensamento próprio definido em muitas áreas. E temos muitos bons protagonistas. Se me disser que são parecidas as ideias, então olhemos para as pessoas - e espero que quando nos apresentarmos às legislativas isso fique ainda mais evidente. Depois, porque temos esta preocupação de ouvir muitas pessoas, de alargar a base natural do CDS. De resto, fizemos isso em Lisboa.
Onde o seu resultado foi melhor do que o do partido.
Tivemos 21%, ninguém achava que isso fosse possível. Eu achava que tínhamos que trabalhar para o máximo. A estratégia agora é a mesma. E temos que esperar que as ideias e o estilo das pessoas também façam o seu trabalho.
Há dois candidatos à liderança do PSD, sei que não nos vai dizer quem prefere...
Não tenho preferência, genuinamente, não os conheço sequer o suficiente para ter preferência.
Algum dos dois lhe ligou nos últimos meses?
Não. O último com quem falei creio que terá sido com Santana Lopes, porque lhe pedi uma reunião há cerca de um ano, na qualidade de candidata à Câmara Municipal de Lisboa, querendo falar como provedor da Santa Casa.
Chegou ao CDS bastante mais tarde do que qualquer deles chegou ao PSD. É de uma geração diferente.
Temos quase 20 anos de diferença, não me cruzei com eles no Parlamento, nem no Governo. Interagi um bocadinho com Rui Rio quando estava ministra com a área do Ordenamento e do Território, mas também foi por pouco tempo. E com Santana Lopes, enfim, só neste contexto pré-autárquico.
Qual dos dois conhece melhor?
Não conheço. Tenho um grau de pouco conhecimento sensivelmente idêntico dos dois.
Com qual dos dois se via mais vice-primeira-ministra?
Mais importante do que as pessoas é o projecto e aquilo que cada partido propõe e a forma como se podem concertar para governar Portugal. CDS e PSD têm história em que, em vários momentos, estiveram juntos para formar governo - isso é bom para dar uma garantia de solidez e credibilidade. Hoje os portugueses estão libertos do voto útil e aqueles que gostam das ideias do CDS e me diziam "gosto de vocês, mas vocês não chegam lá", que agora sintam que podemos chegar um bocadinho lá. Porque aquela pressão muito grande para que o que fica em primeiro lugar é o que governa esvaziou-se com António Costa.
Este período do PSD tem-na favorecido? Tem sido mais agressiva devido à ausência do PSD?
Acho que tenho sido igual a mim própria desde o início. Às vezes o tom pode variar um bocadinho, mas a estratégia é exactamente aquela que ficou definida no congresso.
Do que tem ouvido da campanha do PSD, o que é que tem achado das ideias que se têm discutido?
Tenho acompanhado muito ao longe, porque não vou às sessões de esclarecimento onde certamente os dois candidatos apresentam as suas ideias. Não quero ser injusta e estar a comentar. Estou certa que num cenário pós-eleitoral saberemos muito bem entender-nos com o PSD, qualquer que seja a sua liderança.
O ano novo vai trazer outra novidade, que é Mário Centeno à frente do Eurogrupo. O seu vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes escreveu que essa eleição obrigará o PS a reentrar-se, mas também a direita a não fazer o discurso contra as contas de Centeno. Concorda que nada continuará como antes?
A escolha de Mário Centeno para o Eurogrupo traz, essencialmente, um problema ao PCP e BE. Até agora, o PS dizia uma coisa em Bruxelas ou não dizia. A verdade é que PCP e BE se foram adaptando. E neste momento convivem muito bem com défices alcançados à custa de muita falta de transparência, de muitas cativações, de aumento de dívida em várias áreas (como na Saúde), de degradação de serviços. Houve esse ajustamento, mas agora vai ser mais difícil ter duas vozes, ou ter uma voz mais silenciosa.
Mas a direita já não vai poder fazer o discurso de que Centeno falha na questão orçamental.
Mário Centeno não falha na questão orçamental, acho muito legítimo que as escolhas sejam diferentes. O que tem sido a crítica do CDS é a falta de transparência deste Governo.
O CDS avisou várias vezes que as contas iam falhar.
Não, não, não. Nós por acaso nunca tivemos esse discurso. O que dissemos sempre é que era uma austeridade "à lá esquerda", o que é muito diferente. Sinalizamos o aumento de impostos indirectos, feito de uma forma muito hábil: aquilo que as pessoas sentem no recibo de vencimento vem de uma maneira, mas aquilo que pagam por via indirecta é de outra. E tínhamos razão: a carga fiscal não diminuiu. Há uma austeridade encapotada, que vem por essa via dos impostos indirectos e por uma despesa claramente contida - e não me digam que está controlada, porque a questão é qual o nível de qualidade que os portugueses querem e a própria esquerda defendem para determinadas áreas. Não é possível ver o BE a defender que o orçamento da Cultura é uma vergonha. No Ensino Superior houve um corte de 42 milhões de euros. Isto é austeridade, de outra maneira. Com formas habilidosas...
Habilidosas e populares. O PS continua em alta nas sondagens.
Porque as pessoas não sentem todas da mesma maneira. E nesse aspecto a única coisa que contesto é a falta de capacidade de se assumir um discurso e de se responsabilizar por ele. Nem todas as pessoas vão ao hospital todos os dias, nem todas as pessoas têm crianças a estudar na escola, nem todas usam transportes públicos todos os dias.
Mas todas têm mais dinheiro.
Todas têm mais dinheiro no bolso.
Isso chega para o PS ganhar as eleições?
Isso veremos. Tudo farei para que assim não aconteça. Fazendo a denúncia, por exemplo, nos transportes. Olhe, o Metro de Lisboa, ou a área da saúde, onde há famílias a quem é pedido que levem lençóis para o hospital. Estes casos multiplicam-se, mas atingem uma pessoa, duas, dez, mil, mas isoladamente. Nem todas são tocadas da mesma maneira em tudo. E em relação ao recibo de vencimento, todas levam para casa.
Se o PS vencer as eleições e só precisar de um partido para o ajudar a governar, se a solução estiver entre o CDS e o BE, o que é melhor para o país?
Acho que quem faz um caminho de governação com o PCP e BE, impedindo questões importantes para o futuro do país, tendo uma actuação muito pouco transparente, com muito pouca capacidade para assumir responsabilidades - tivemos um ano doloroso, sem nunca o primeiro-ministro se ter mostrado à altura -, fez a sua escolha. Acho que o PS, se for esse o caso, não terá dificuldades de entender-se à esquerda.
Quando diz que as atitudes do primeiro-ministro comprometem o futuro, também comprometem consensos como o Presidente tem pedido? Rui Rio, do PSD, diz também que se quer sentar com todos os líderes partidários. Em que matérias é que isso se pode justificar?
Não tenho nenhum problema em trabalhar em áreas onde seria possível ter consensos. O que acho estranho é um primeiro-ministro que de vez em quando fala da necessidade de consensos, ao mesmo tempo mande chumbar todas as propostas de partidos que não pertençam à sua maioria. Em 90 projectos do CDS, não passou um com o voto do PS.
Concorda então com Santana Lopes, que acha que nesta legislatura não é possível falar com este Governo.
Não gosto de falar em definitivo. O que o CDS não mudou em nada a sua postura: oposição crítica, sempre construtiva. Perguntei ao PM se estava disponível para trabalhar num estatuto fiscal para o Interior e nas questões das alterações climáticas e seca, e o PM respondeu o que respondeu. O CDS depois de ter tido 21% em Lisboa tornou-se mais incómodo certamente. Notamos esse incómodo no Governo e no primeiro-ministro.
Falávamos do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Na moção que levará ao congresso do CDS vai propor um apoio a uma recandidatura de Marcelo à Presidência?
Isso ainda nem me ocorreu, estamos ainda tão longe. Confesso que ainda nem pensei no assunto. Mas também lhe digo uma coisa: se o prof Marcelo Rebelo de Sousa se quiser recandidatar, quem apoiou da primeira vez não terá dificuldade em apoiá-lo uma segunda. Para que não haja nenhuma dúvida.