O bastonário da Ordem dos Médicos vai dar início a um inquérito ao nível nacional para aferir da satisfação dos profissionais com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Vou fazer um inquérito aos médicos sobre várias questões relacionadas com o grau de satisfação, de motivação, com aquilo que eles acham que devia ser feito no Serviço Nacional de Saúde – enfim, um inquérito alargado para ter a perceção daquilo que as pessoas neste momento estão a sentir”, avança Miguel Guimarães à Renascença neste sábado.
O inquérito deverá ter “início entre dezembro e janeiro” e os resultados serão depois entregues à tutela. “Pode ser que tenhamos surpresas, mas não acredito”, acrescenta o bastonário.
Miguel Guimarães anuncia o inquérito nacional no mesmo dia em que são conhecidos os números da saída de médicos do país para exercer no estrangeiro. No seu entender, na origem deste êxodo está a desmotivação que muitos clínicos sentem.
“Eu não diria que é a situação em se está a formar a tempestade perfeita, agora que há ali um enorme descontentamento, uma enorme desmotivação das pessoas que estão a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde há. Sobretudo médicos e enfermeiros, mas também nos outros profissionais”, afirma.
De acordo com o “Expresso”, só este ano vão deixar o país quase 400 clínicos (381). Mesmo sem contar com os números da região Norte, o semanário fala na maior fuga de especialistas do SNS dos últimos quatro anos.
À Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos comenta ainda a auditoria sobre o internato médico.
“A saída de capital humano obviamente que não permite se calhar até continuar a ter o mapa de áreas que temos atualmente, porque se não corrigirmos as pessoas que dão formação, que ensinam – a operar, a ver doentes, etc – obviamente não temos a mesma capacidade, porque o objetivo principal do internato médico é que um médico, quando acabe a formação, seja um bom médico, capaz, um excelente especialista. Esse é o objetivo fundamental: a qualidade”, destaca.
Auditoria aponta falhas ao internato médico e pede melhorias à Ordem
A avaliação das capacidades de formação de médicos no SNS tem sido subjetiva e pouco documentada, diz uma auditoria externa e independente, que aponta falhas no processo, nomeadamente à Ordem dos Médicos.
As conclusões constam do relatório da auditoria externa pedida pelo Ministério da Saúde, e realizada pela EY, e que analisa os procedimentos que desencadeiam o internato médico (formação especializada de médicos).
A atribuição de vagas para o internato tem todos os anos por base a definição da idoneidade e capacidade de formação dos serviços de saúde. As vagas são abertas pelo Ministério da Saúde, mas com base na identificação das capacidades por parte da Ordem dos Médicos.
A auditoria aponta falhas neste processo de avaliação da idoneidade e capacidades formativas, indicando que falta uniformização e documentação do processo, o que aumenta a ineficiência, além de a avaliação ser subjetiva.
“Não se verificou a existência de práticas uniformes e documentadas de revisão periódica dos critérios de idoneidade e capacidade por parte da Ordem do Médicos. Alguns colégios de especialidade assinalaram que existem critérios pouco adequados face à evolução e contexto atual da sua especialidade, tendo sido referido que os critérios se encontram em revisão “, refere o documento.
Como consequência, a auditoria entende que pode haver diferentes avaliações dos critérios e, logo, uma desadequação desses critérios a cada especialidade médica, podendo assim levar a uma subjetividade na avaliação das idoneidades e das capacidades formativas de cada serviço.
A questão da subjetividade pode, segundo os auditores, “afetar ligeiramente o aproveitamento da capacidade formativa”.
Como recomendações, a auditoria sugere que seja criado um manual de regras e procedimentos com a metodologia de trabalho, com as atividades e que permita uniformizar o processo entre as várias entidades envolvidas.
Propõe ainda uma uniformização dos processos de revisão dos questionários e dos critérios de avaliação da idoneidade e capacidade formativa pela Ordem dos Médicos e que se torne obrigatório que todos os serviços preencham os questionários de idoneidade para “melhorar a clareza do processo e a adequação à realidade das especialidades” médicas.