O Observatório da Emigração alerta que os baixos salários e os elevados preços da habitação favorecem a saída de jovens licenciados do país.
Na semana em que um estudo do Banco de Portugal conclui que o salário médio real de entrada no mercado de trabalho de um jovem licenciado em 2020 (1.050 euros) era menor do que em 2006 (1.088 euros), o coordenador do observatório admite, em declarações à Renascença, que este é um quadro que poderá contribuir para a fuga dos recém-licenciados para o estrangeiro.
Rui Pena Pires diz que “a conjugação entre habitação e inflação deixa hoje pouco rendimento disponível a quem quer começar uma nova vida familiar e profissional e, nesse sentido, é uma situação que favorece a continuidade da emigração em níveis elevados”.
O coordenador do Observatório da Emigração diz que, nos próximos anos, é provável que “estabilize nos 65 mil a 70 mil”, o número dos portugueses que abandonam o país anualmente. Um valor superior aos “mais de 60 mil” que saíram de Portugal em 2021 e que se aproxima “do número de nascimentos que há anualmente no país”.
Rui Pena Pires chama ainda a atenção para o “aumento do número de filhos de mães portuguesas que nascem no estrangeiro”, uma vez que são muitas as mulheres jovens que emigram, acentuando, de forma indireta, o desequilíbrio demográfico.
No entanto, este é um fenómeno que está a ser compensado com a chegada de imigrantes ao país. Apesar de ser difícil contabilizar o número de cidadãos estrangeiros que todos os anos escolhem Portugal para trabalhar e viver, porque muitos só veem a sua situação regularizada muito tempo depois, Rui Pena Pires admite que o saldo migratório pode já ser positivo.