​Bailarina estrela do Bolshoi deixa a Rússia com estrondo. "Com toda a minha alma, sou contra a guerra”
17-03-2022 - 23:20
 • Renascença

Mundo da dança manifesta-se contra a invasão da Ucrânia. Quatro bailarinos já abandonaram a Rússia e centenas afirmam-se revoltados com a situação. Companhias de todo o mundo mostram-se solidárias e oferecem apoio aos artistas ucranianos que se tornaram refugiados.

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Pelo menos quatro os grandes nomes do mundo da dança que deixaram a Rússia, desde o início da invasão da Ucrânia ordenada pelo Presidente Vladimir Putin.

Olga Smirnova, Victor Caixeta, David Motta Soares e Jacopo Tissi são alguns dos milhares de bailarinos a trabalhar em companhias de ballet russas, contudo, estes optaram por sair do país após o começo da guerra. Não fogem da realidade e revoltam-se contra ela, deixando mensagens de apoio à Ucrânia nas redes sociais.

A russa Olga Smirnova foi a pioneira. A prima bailarina do Teatro Bolshoi, neta de um cidadão ucraniano, deixou a Rússia em direção ao Ballet Nacional da Holanda, que a recebeu de braços abertos.

Nas redes sociais Smirnova publicou, no início do mês, uma mensagem contra o conflito que já provocou milhares de vítimas, entre mortos e feridos, e três milhões de refugiados: “Não posso deixar de dizer, com todas as fibras da minha alma, sou contra a guerra”. Na publicação a bailarina mostra-se desolada com a situação e queixa-se de o Presidente russo, Vladimir Putin, “continuar a viver no século XX”.

“Continuamos a viver como se estivéssemos no século XX, embora estejamos formalmente no século XXI. Num mundo moderno e iluminado, eu espero que as civilizações desenvolvidas usem apenas métodos pacíficos para resolver as suas disputas políticas”, escreveu.

No entanto, Smirnova não foi a única a abandonar o epicentro da dança clássica e a seguir as pisadas de Rudolf Nureyev, o bailarino que, em 1961, deixou a então União Soviética e pediu asilo em França.

Sessenta anos depois, brasileiro David Motta Soares e o italiano Jacopo Tissi são outros nomes sonantes do Teatro Bolshoi, que decidiram sair da Rússia para trás por causa da guerra na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro.

Motta Soares anunciou a sua partida numa publicação na rede social Instagram onde afirma: “Estou muito triste por dizer que deixei o Teatro Bolshoi (…) Mas não posso agir como nada se estivesse a passar”.

Tal como o colega brasileiro, também Jacopo Tissi se manifestou nas redes sociais destacando o seu enorme desejo de que “toda a guerra e sofrimento acabem o mais rápido possível”. O bailarino italiano partilha também a sua tristeza por deixar o Bolshoi.

Além dos três bailarinos do Teatro Bolshoi, a Rússia perdeu ainda Víctor Caixeta, bailarino do Teatro Marinsky. O intérprete de nacionalidade brasileira junta-se a Olga Smirnova na viagem rumo aos Países Baixos. Caixeta e Smirnova farão parte do corpo do Ballet Nacional da Holanda. No caso de Olga Smirnova, o destaque estará assegurado, enquanto prima bailarina, irá assumir um cargo como principal.

Espetáculos, vídeos, publicações. O mundo da dança manifestou-se apelando ao fim do conflito do Leste europeu. Aquando do início da guerra, o bailarino e coreógrafo russo Alexei Ratmansky, colocou a sua página de Facebook à disposição de qualquer artista. Rapidamente a página tornou-se num mural de publicações de bailarinos, coreógrafos e diretores artísticos de todo o mundo que se manifestam contra a Ucrânia.

De momento são já mais de 100 os artistas do mundo da dança a constar neste “mural”. Grandes nomes do ballet clássico como Tamara Rojo, Sascha Radetsky, Irina Dvorovensko, Angel Corella, entre muitos outros, deixam mensagens de lamento e apoio. A página de Alexei é agora uma compilação de palavras de esperança vindas das mais importantes vertentes da dança clássica no mundo.

Além de todo o apoio recebido nas redes sociais, o suporte do mundo da dança para com a Ucrânia não fica por aí. Diversas companhias já abriram portas aos artistas ucranianos. De Paris, chegou a oferta de residência ao Ballet da Ópera de Kiev. Da Roménia, a possibilidade de integração numa companhia romena a qualquer bailarino ucraniano. E de todo o mundo o erguer de bandeiras amarelas e azuis no final de espetáculos.