Jerónimo de Sousa discursou, este domingo, perante o Comité Central do PCP após ter anunciado a saída da liderança do partido, sendo substituído por Paulo Raimundo no cargo de secretário-geral. Na sua intervenção deixou forte críticas o Executivo e assumiu que vai deixar o Parlamento.
Falou de um Governo “cada vez mais inclinado à direita”, cujas políticas podem “empurrar rapidamente o país para recessão”.
Para o líder, o Governo apresenta uma “total inércia” e “surdez” perante a difícil situação do país.
Segundo Jerónimo, a proposta de Orçamento do Estado não dá resposta aos problemas dos trabalhadores, pequenos empresários ou serviços públicos, assim como aos pensionistas, que sofrem uma “burla”.
“O Orçamento agrava a injustiça fiscal.”
Abandona lugar de deputado
O histórico comunista, de 75 anos, que liderou os órgãos dirigentes do partido durante 18 anos, anunciou sábado que deixa o cargo por questões de saúde, devendo continuar no Comité Central.
"Foi por iniciativa própria" que decidiu abandonar a liderança do partido.
Questionado pelos jornalistas assume que vai abandonar o Parlamento. "Não, não vou continuar como deputado. Naturalmente, há aqui uma alteração qualitativa das minhas capacidades. Tendo em conta a dimensão da nossa bancada... Não se compadece com ausências momentâneas", sustentou.
Quem se segue?
O antigo deputado e jovem dirigente comunista Duarte Alves é o nome seguinte na lista de candidatos à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Lisboa, por onde Jerónimo de Sousa foi eleito.
Sem referir o nome de Duarte Alves, o líder cessante referiu: "Posso afirmar que estamos em condições de avançar com uma solução dinâmica."
Iniciada e concluída a "devida auscultação", continuou o secretário-geral comunista cessante, Paulo Raimundo foi o nome escolhido dentro da direção comunista para o substituir: "É um camarada de uma geração mais jovem, com um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública com a ligação, contacto e identificação com os trabalhos e as massas populares, com o trabalho do partido, as suas organizações e militantes."
Em setembro, Jerónimo de Sousa dizia à Renascença e ao jornal "Público" que "todos estamos de acordo: um dia será [substituído]. Não somos eternos. Naturalmente eu tenho a consciência de que a vida, a questão da saúde, pode ser um fator subjetivo, mas não é".
O secretário-geral cessante tinha mandato até 2024 e vai ser substituído por um dos poucos dirigentes que faz parte dos órgãos mais restritos do partido - a Comissão Política e o Secretariado. Paulo Raimundo é uma figura proeminente para as bases comunistas, mas desconhecida na esfera mediática.