A diretora do instituto de bioética da Universidade Católica, Ana Sofia Carvalho, considera, em declarações à Renascença, que "o grande debate deveria ser como conseguimos dar condições dignas para as pessoas passarem os seus últimos dias de vida e como podemos melhorar a dignidade das pessoas na morte".
“Não temos uma rede de cuidados paliativos que chegue a toda a população. Não obstante isso as pessoas têm de ser tratadas com dignidade nas últimas fases. O debate deveria ser nesse sentido e só após termos feitos todos os esforços para garantir que as pessoas morrem de forma digna, que têm cuidados domiciliários e o apoio que necessitam nesta fase da sua vida, então aí é que poderemos percecionar se verdadeiramente as pessoas perante essas circunstâncias ainda querem morrer. Estamos a começar a casa pelo telhado”, refere.
Ana Sofia Carvalho lembra que “é possível tratar a dor, há especialistas de dor, é possível controlar a dor, minimizar o sofrimento. São essas questões que não vejo respondidas”.
“Há duas áreas dos cuidados paliativos que devem estar presentes em todos os profissionais de saúde, que é exatamente tratar a dor e o sofrimento e comunicar com a pessoa e conseguir manter apoio psicológico com um doente que está em fase terminal da sua vida”, esclarece.
Esta especialista acrescenta que, “perante a inexistência de um sistema capaz de tratar as pessoas de forma digna em fim de vida, dar à pessoa como solução matar-se. Não é esse o país em que eu quero morrer”.
Ana Sofia Carvalho explica que ainda persiste uma confusão de conceitos na população. “Deixar morrer é uma obrigação de qualquer profissional de saúde e tem de ter a coragem moral de saber parar. Isso é uma questão ética de extrema importância. Outra coisa é a eutanásia. Uma pessoa que pede para ser morta e alguém, um médico ou não, executa um pedido dessa pessoa”.