"Mala de emergência à porta”. Ilha de São Jorge prepara-se para o pior
23-03-2022 - 12:00
 • João Cunha , Olímpia Mairos

A atividade sísmica está a aumentar de intensidade e frequência, o que levou a Proteção Civil a preparar medidas para eventual erupção vulcânica ou grande sismo.

Estão a aumentar intensidade e de frequência os sismos que se têm registado desde sábado nos Açores. Desde sábado mais de 1.800 já foram registados.

Mas desde a meia-noite desta quarta-feira, a rede de sismógrafos o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores - CIVISA assinalou meia centena de sismos, alguns de média intensidade, sendo o mais forte o que atingiu os 2.7 graus na escala de Richter, já esta manhã.

À Renascença, Alexandra Albernaz, residente em Velas, conta que a noite foi passada em claro.

Esta foi a pior noite desde o início da crise sísmica. Eu não dormi praticamente nada porque o chão tremia constantemente e sismos que nós sentíamos. As outras noites para trás havia um ou outro que se sentia, mas tudo fraquinho. Esta noite sentiu-se e bem. Sentiu-se muito”, descreve.

Os dias não têm sido fáceis e Alexandra diz que é preciso preparar os próximos.

“É viver em constante sobressalto, é dormir de noite vestida, é ter uma mala de emergência à porta para poder sair com alguma coisa para, nos próximos dias, poder estar bem; é estar à espera do pior constantemente, porque a terra não pára de mexer”, conta.

Já Carlos Avila, que reside em Rosais, não acredita que venha a ser necessário evacuar toda a ilha, no caso de uma erupção vulcânica.

“Se tiver que ser, há de ser. Por enquanto ainda não pensei nisso, mas, quando chegar essa situação, se tiver que ser, o que é que a gente vai fazer? Mas penso que evacuar a ilha toda, espero bem que não”, diz à Renascença.

Essa é, no entanto, uma possibilidade que está a admitida pelas autoridades. Carlos Avila entende que “estão a pecar por excesso de precaução e acho muito bem”.

“E é melhor que seja assim, mas acho que não vai ser”, remata.

O presidente do Governo dos Açores reconheceu na terça-feira ser “preocupante” a atividade sísmica em São Jorge, por ter o epicentro na “massa tectónica da própria ilha e não no mar”, motivo pelo qual estão a ser preparados todos os cenários, inclusive o de evacuação.

A Proteção Civil dos Açores “está a preparar medidas preventivas que possam ser adotadas num possível cenário de um sismo de maior magnitude ou de uma possível erupção” em São Jorge, resultante da crise sismovulcânica. Por precaução, os utentes internados no Centro de Saúde das Velas, que está mais próximo dos epicentros dos sismos, serão deslocados para o Centro de Saúde da Calheta, na outra ponta da ilha de São Jorge.

As medidas estão a ser delineadas em articulação com as autarquias e agentes com responsabilidade na área de socorro às populações, revelando que “já se encontra na ilha de São Jorge um técnico do SRPCBA para reunir com os municípios e prestar apoio” e “está a ser operacionalizado o envio de equipamento de suporte para reforçar a capacidade de resposta da ilha em caso de necessidade”.