Os cerca de 50 barcos de pesca franceses que estavam ao largo de Jersey desde esta manhã para protestar contra as condições de pesca impostas depois do Brexit começaram à tarde a deixar as águas da Ilha do Canal.
"A demonstração de força está feita. É aos políticos que cabe decidir. (...) Agora, se não tivermos sucesso, a ministra deve apagar a luz", disse o presidente da Comissão regional de pesca da Normandia, Dimitri Rogoff, indicando assim a situação de crise do setor.
O governo de Jersey esteve reunido com pescadores franceses que se concentraram junto ao porto de Saint Hélier, tendo, a certa altura, ameaçado impedir a chegada de outros barcos, o que não chegou a acontecer.
Na origem do conflito está a publicação, na sexta-feira, de uma lista de 41 barcos franceses autorizados a pescar até o final do ano nas águas de Jersey, mas com limitações de tempo, de espécies que podem capturar e de equipamento que podem usar.
Na opinião das comissões regionais de pesca da Normandia e da Bretanha, essas limitações impostas por Jersey "não estão previstas" no Acordo de Comércio pós-Brexit, assinado em 24 de dezembro entre o Reino Unido e a União Europeia, e, de qualquer maneira, as alterações técnicas devem ser comunicadas com "antecedência suficiente".
Don Thompson, da Associação de Pescadores de Jersey, sublinhou, por sua vez, que os seus colegas franceses "tiveram desde 1 de janeiro para se adaptarem ao novo regulamento", e sugeriu que os afetados são aqueles "que não cumprem os requisitos".
Em declarações à BBC, Ian Gorst indicou que as autoridades de Jersey estão dispostas a trabalhar com os pescadores franceses que não cumpriram as formalidades "para os ajudar a obter a documentação necessária" e poderem recuperar as licenças.
Entretanto, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reiterou hoje o "apoio inequívoco" às autoridades de Jersey, para onde ordenou, na quarta-feira, o envio de dois barcos-patrulha da Marinha Real Britânica, ao qual a França respondeu enviando também dois barcos-patrulha para a ilha situada ao largo de França.
Na véspera, a ministra do Mar da França, Annick Girardin, tinha-se manifestado "indignada" com a situação dos pescadores franceses e disse que Paris estaria disposta a cortar o fornecimento de eletricidade para Jersey via cabo submarino da costa francesa como forma de pressão.