Marcelo Rebelo de Sousa diz que os portugueses não podem ser enganados com a vacina contra a Covid-19 como o foram com a vacina da gripe. “É verdade. Os portugueses foram enganados e eu já reconheci isso numa entrevista”, referiu o recandidato a Belém, em resposta a Miguel Sousa Tavares nesta segunda-feira à noite.
“Reconheci que disse baseado naquilo que era a convicção da senhora ministra da Saúde”, sublinhou o chefe do Estado e candidato à reeleição presidencial em janeiro de 2021.
Quanto à vacina da Covid-19, Marcelo considera que o processo está a ser agilizado e acompanhado de forma diferente. Ainda assim, “aquilo que tenho insistido é o seguinte: não elevar expectativas dos portugueses, porque começa a vacinar-se no dia 27, é verdade, os profissionais de saúde e o primeiro grupo de risco, a primeira toma. A segunda toma será 30 dias depois, portanto, ninguém está cabalmente vacinado com duas tomas antes do final de janeiro”, advertiu.
Crise política em 2021? “Nem desejável nem previsível”
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou esta segunda-feira que espera um segundo mandato mais difícil, se for reeleito Presidente da República, identificando "mais pulverização" no sistema partidário, à esquerda e à direita, mas afastou uma crise política em 2021.
"Eu acho que o segundo mandato vai ser mais difícil, se for atribuído pelos portugueses", declarou o chefe de Estado e candidato presidencial, em entrevista à TVI, referindo que não sabe quando acabará a pandemia de Covid-19 e qual a duração e profundidade da crise económica e social.
Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que, "quanto mais longo for tudo isto, maior a desigualdade entre os portugueses", realçando que "esse é um fator que está a agravado".
"E quanto maior for isto tudo, maior o stress do sistema político. Ora, o sistema político, quando eu entrei, tinha um fator de stress, que eram dois hemisférios que não se podiam ver um ao outro, ambos achavam que tinham legitimidade para governar o país. Agora é mais do que isso: os hemisférios existem, só que dentro dos hemisférios há mais parceiros, há mais protagonistas, há mais pulverização", acrescentou.
Segundo o Presidente recandidato, "portanto, é mais difícil a sustentabilidade da área de esquerda no poder e é mais complexa a construção de uma alternativa de direita na oposição".
Questionado se lhe passa pela cabeça a possibilidade de no próximo ano haver eleições legislativas antecipadas, respondeu: "Não, Isso não passa".
Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que o Orçamento do Estado para 2021 foi aprovado, que no primeiro semestre Portugal terá a presidência da União Europeia e que depois haverá eleições autárquicas.
"E logo a seguir há o debate interno nos partidos pelo termo do mandato de muitas lideranças. O que significa que não é desejável e não é previsível nenhuma crise em 2021", concluiu.
Demissão de Cabrita na mira de Marcelo
Nestas declarações à TVI, o Presidente da República considerou, ainda, que, no caso da morte de Ihor Homenyuk usou uma "expressão paralela" à da intervenção que antecedeu a demissão de Constança Urbano de Sousa de ministra da Administração Interna em 2017.
Questionado se admite que não foi tão duro agora com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, como com a sua antecessora neste cargo, Constança Urbano de Sousa, face aos incêndios, em outubro de 2017, o chefe de Estado discordou dessa leitura.
"Não, eu usei até uma expressão, eu usei no outro dia em Belém uma expressão que era paralela a essa, num plano diferente", contrapôs.
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que em 2017 defendeu que "valia a pena pensar se quem no plano da Administração Pública exercia funções que tinham conduzido a certo resultado eram as pessoas indicadas para a mudança", falando então em geral na Administração Pública.
"E a senhora ministra [Constança Urbano de Sousa] pediu a exoneração. A senhora ministra da Administração Interna pediu a exoneração, na altura. Não tenho conhecimento de pedido de exoneração nem proposta de exoneração do senhor ministro da Administração Interna [Eduardo Cabrita]", acrescentou o Presidente da República.
No dia 17 de outubro de 2017, numa declaração ao país, feita a partir da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que era preciso "abrir um novo ciclo", na sequência dos incêndios, e que isso "inevitavelmente obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo".
Agora, em relação ao caso do SEF, no dia 10 deste mês, no Palácio de Belém, em Lisboa, o Presidente da República defendeu que era preciso apurar se a morte de Ihor Homenyuk corresponde a uma atuação sistémica e que, se assim for, há que mudar a instituição e protagonistas. "Quem protagonizou a passada provavelmente não tem condições para protagonizar a futura".