A subida dos preços acentua-se em Portugal; a inflação em outubro passou a ser contabilizada em dois dígitos: 10,2 %. No entanto, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa multiplicaram as críticas ao BCE, cuja missão é promover a estabilidade dos preços, com uma inflação à volta de 2%.
As críticas ao BCE, por ter subido o seu juro diretor 0,75% na passada quinta-feira, surgiram também de outros governantes da zona euro, que julgaram a subida exagerada. Infelizmente, os políticos abstiveram-se de nos informar quais seriam as medidas que, em seu entender, o BCE deveria tomar para dominar a inflação, sem o custo de uma travagem no consumo e no investimento, com o decorrente risco de recessão.
Os governantes europeus falaram de “precipitação” na subida dos juros do BCE. Mais razão teriam se criticassem o atraso nessa subida - a primeira subida foi em julho. Se tivesse começado mais cedo, o BCE poderia subir os juros de modo menos agressivo. Esse foi o seu erro.
A inflação tem graves consequências sociais. A alta de preços, sobretudo quando envolve bens essenciais, como a alimentação, os combustíveis, a eletricidade, etc., prejudica muito mais as pessoas e as famílias de baixos rendimentos. Combater a inflação é, por isso, um imperativo de ordem ética e social.
Naturalmente que o BCE reconhece que tornar mais caro o preço do dinheiro tem custos económicos e sociais. Simplesmente, o BCE coloca num dos pratos da balança a possibilidade de uma recessão, e no outro prato o enraizamento das expectativas de uma persistente alta dos preços; e conclui que, dado o mal que uma inflação prolongada traz às nossas sociedades, é de correr o risco de recessão.
É uma escolha clara, não tendo sido apresentada outra melhor pelos críticos do BCE.