A ministra da Administração Interna quebrou esta quinta-feira o silêncio sobre os incêndios para explicar o que foi feito nos últimos dias e negar descoordenação no Governo. "O senhor primeiro-ministro esteve sempre informado", afirma Margarida Blasco.
Em conferência de imprensa na sede nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a ministra foi questionada se se sente fragilizada por ser o primeiro-ministro a dar a cara e liderar a resposta aos incêndios.
“O primeiro-ministro quando fala, fala em nome do Governo e o primeiro-ministro acompanhou a par e passo a evolução desta tragédia. Esteve sempre informado, esteve sempre ao corrente e comunicou ao Presidente da República. Todo o Governo esteve informado desde a primeira hora. Quando o senhor primeiro-ministro fala, fala pelo Governo", declarou Margarida Blasco.
Para justificar o seu silêncio nos últimos dias, a governante considera que há um tempo para "prevenir" incêndios, um tempo para "agir" e "finalmente há um momento para falar ao país".
"As boas práticas aconselham a que não haja intervenções desnecessárias no teatro de operações e na comunicação", sublinha.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, exigiu a demissão dos responsáveis pela coordenação técnica operacional na sequência da morte de três bombeiros de Tábua, afirmando que o sistema falhou. Margarida Blasco recusou comentar o pedido de demissão.
Relatório para "esclarecer se houve falhas"
Questionada pelos jornalistas se admite falhas e erros na gestão dos incêndios dos últimos dias, a ministra diz que, a seu tempo, serão tiradas conclusões.
"Ainda temos fogos neste momento. No final, quando fizermos um ponto da situação, faremos um relatório e estaremos à disposição para esclarecer se houve falhas e se tudo correu bem, mas isso no seu tempo", sublinhou.
A presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém, disse aos jornalistas que ligou para a ministra da Administração Interna, mas o "telemóvel estava desligado".
Margarida Blasco esclarece que não recebeu qualquer telefonema da autarca de Arouca. "Verifiquei que não tenho esse telefonema. O número de telefone que lhe foi dado não era o meu. O Sr. secretário de Estado ainda hoje falou com a senhora presidente da Câmara de Arouca, como fez com praticamente todos os autarcas deste país", sublinhou.
Foi mobilizado o maior "dispositivo de sempre"
Nesta conferência de imprensa na sede da Proteção Civil nacional, em Carnaxide, a ministra detalhou os passos dados desde o alerta vermelho para o risco de incêndio à declaração da situação de calamidade.
Margarida Blasco assinala que foi mobilizado o maior dispositivo de sempre para o combate aos fogos dos últimos dias, incluindo com ajuda internacional.
"Nestes dias mais críticos tivemos o maior dispositivo de combate a incêndios alguma vez mobilizado no nosso país", salientou.
De acordo com a ministra, "foram empenhados, 37.772 operacionais, 10.639 meios terrestres, efetuadas 827 missões aéreas de combate, a que correspondem 8.757 descargas".
Mais de 400 incêndios durante a noite
De 14 a 18 de setembro, foram registadas 1.044 ignições", diz Margarida Blasco, citando dados da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
A governante sublinha que quase metade dos incêndios (416) deflagraram durante a noite.
Estes mais de mil incêndios consumiram quase 95 mil hectares de mato e de floresta.
"Neste período mais crítico, de acordo com o relatório nacional provisório de incidentes rurais, no continente terá havido um total de área ardida de 94.146 hectares", disse Margarida Blasco.
O primeiro-ministro afirmou esta semana que as autoridades vão perseguir os incendiários e prometeu uma nova equipa de investigação dedicada a este tipo de crime, envolvendo várias forças.
A ministra da Administração Interna adiantou que, na segunda-feira, vai realizar-se uma reunião sobre o assunto. O encontro será liderado por Luís Montenegro e vai contar com Margarida Blasco, a ministra da Justiça, Rita Júdice, a procuradora-geral da República, e os responsáveis da Polícia Judiciária, PSP e GNR.
“Havendo a convicção de que muitos destes incêndios têm origem criminosa, há que destrinçar entre aqueles que eventualmente sejam negligentes dos outros que possam configurar a existência de uma associação criminosa. E esta investigação tem que ser feita em colaboração entre todas as autoridades judiciárias e órgãos de polícia e investigação criminal”, frisou Margarida Blasco.