O PSD desafiou esta quinta-feira o primeiro-ministro a dar esclarecimentos ao país, após a demissão de Pedro Nuno Santos do Governo, distanciando-se contudo da postura da Iniciativa Liberal (IL), que esta manhã anunciou que vai avançar com uma moção de censura ao Governo.
Em conferência de imprensa, no Porto, o vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, disse que “o primeiro-ministro não se pode esconder” e “tem de dar uma explicação cabal" ao país, no Parlamento, na próxima semana, num debate requerido pelos sociais-democratas.
“Doutor António Costa, o tempo não é de se esconder. O tempo é de responder (…). Nunca nos habituaremos a esta navegação à vista sem rumo. Nunca nos habituaremos a esta política de empobrecimento”, disse Paulo Rangel.
O social-democrata considerou que o Governo “deixou de governar” e está dedicado “à resolução de crises internas”.
“Esta é uma crise grave, muito grave. António Costa e o PS obtiveram maioria absoluta para criar um Governo estável. Mas neste momento a maioria absoluta é um fator de instabilidade. Assistimos a uma epidemia de crises políticas com 11 demissões em sete/oito/nove meses”, disse o vice-presidente do PSD.
Confrontado com o anúncio de uma moção de censura por parte da Iniciativa Liberal, o vice-presidente social-democrata desafia o Governo a apresentar uma moção de confiança.
“Houve eleições há nove meses, há uma maioria absoluta, se o Governo está fragilizado e precisa de renovar a sua confiança e legitimidade, deve ser o Governo a apresentar uma moção de confiança”, defende.
"País não pode andar de eleições em eleições"
Segundo Rangel, o PSD “está sempre preparado para ser alternativa”, realçando que, nesta sua intervenção, “ficou muito claro que nós estamos muito serenos, muito preparados”.
“Estamos conscientes de que este é um momento muito melindroso para o país, ainda por cima num tempo de crise grave, em que as famílias estão a sofrer, as empresas estão numa situação, muitas delas, dramática, e o Governo está totalmente paralisado todos os meses por novos casos”, apontou.
Reiterando que o partido tem “uma postura de sentido de Estado”, considerou que “nesta altura o país não pode andar de eleições em eleições e, portanto, se o Governo sentir que precisa da confiança da Assembleia da República, deve pedir uma moção de confiança”.
“E nós aqui estaremos para dar a nossa resposta no Parlamento, no momento certo, neste momento o que é fundamental é chamar o primeiro-ministro à responsabilidade. É tempo de o primeiro-ministro responder, é tempo de deixar de se esconder”, defendeu.
Paulo Rangel não tem dúvidas que a credibilidade do primeiro-ministro sai fortemente abalada depois da demissão de Pedro Nuno Santos.
O Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, apresentou na quarta-feira à noite a demissão do cargo ao primeiro-ministro, António Costa, que a aceitou.
Em comunicado divulgado pelo gabinete do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos explicou que "face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados em torno" do caso da TAP, decidiu "assumir a responsabilidade política e apresentar a sua demissão", já aceite pelo primeiro-ministro António Costa.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, demitiu na terça-feira a secretária de Estado do Tesouro, menos de um mês depois de Alexandra Reis ter tomado posse e após quatro dias de polémica com a indemnização de 500 mil euros da TAP, tutelada por Pedro Nuno Santos.
Partidos como o CDS e o Chega já defenderam que o Presidente da República deve avaliar se o Governo tem condições para continuar.
O antigo primeiro-ministro Santana Lopes vai mais longe, lembrando que por menos o antigo presidente Jorge Sampaio dissolveu o Governo que liderava. Santana considera que, pelos mesmos critérios, o atual Executivo já devia ter sido dissolvido mais do que uma vez.