O ministro das Finanças nega que Portugal esteja menos preparado do que outros países para uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia, garantindo que o Governo fez tudo para acautelar o impacto de um ‘no deal’.
Em declarações aos jornalistas em Bucareste, à entrada para a reunião informal do Eurogrupo, Mário Centeno reagiu às declarações da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, rejeitando a ideia de que Portugal esteja menos preparado do que outros países do bloco comunitário para um Brexit sem acordo.
“Não acredito. Fizemos tudo internamente para estar preparados. As nossas relações com o Reino Unido são muito importantes, do ponto vista comercial, económico, financeiro, no turismo. Muitos britânicos têm relações muito próximas com Portugal. Essas questões estão acauteladas, não nos devemos preocupar”, afirmou.
Em entrevista à RTP, na noite de quinta-feira, Christine Lagarde considerou que Portugal não ficará imune ao Brexit.
“Portugal não está inteiramente protegido [do ‘Brexit’] porque há muito comércio entre Portugal e o Reino Unido e têm uma grande atividade de serviços, que é o turismo, amplamente aberto ao Reino Unido”, referiu a diretora-geral do FMI, questionando também o potencial impacto do regresso ao Reino Unido dos reformados britânicos que vivem em Portugal.
Assumindo que é “inevitável” que uma saída sem acordo tenha impacto na Europa, e consequentemente em Portugal, dado o efeito que terá na economia e nas finanças do Reino Unido, o ministro das Finanças português insistiu que o Governo fez “tudo o que tinha a fazer para preparar uma saída dessa natureza”.
“Eu não sei se algum país está completamente protegido para uma saída sem acordo, dada a sua dimensão em termos de implicações. O ‘Brexit’, desde o início, tem sido definido por mim como uma mudança estrutural, algo que precisa de ser preparado. Foi isso que fomos fazendo ao longo mais de dois anos de debate, que é um debate que se passa essencialmente no Reino Unido, mas que, por ter implicações para a Europa, nos envolve a todos”, estimou, considerando que “este tipo de mudança económica é sempre perturbador no curto prazo”.
Centeno tinha iniciado a sua declaração, em Bucareste, esclarecendo que a saída do Reino Unido da UE não consta “formalmente” na agenda da reunião desta sexta-feira do fórum dos ministros das Finanças da zona euro, a que preside, mas que a Comissão Europeia iria apresentar o estado de preparação do bloco comunitário para um ‘Brexit’ desordenado.
“Politicamente, é importante continuar a passar a mensagem de que uma saída sem acordo é muito negativa para todos e deve ser evitada a todo o custo”, enfatizou.
Na terça-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou pretender pedir um novo adiamento do ‘Brexit’ "o mais curto possível", ao mesmo tempo que convidou o líder da oposição, o trabalhista, Jeremy Corbyn, para negociar um entendimento sobre alterações à Declaração Política para as relações futuras entre o Reino Unido e a UE, que acompanha o Acordo de Saída, que possam ser apresentadas ao Conselho Europeu de 10 de abril e permitam aprovar os documentos no parlamento.
Esta sexta-feira, a BBC avança que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, vai propor uma extensão do Brexit “flexível” durante 12 meses.
A decisão definitiva de prorrogar o período de negociações do ‘Brexit’ cabe aos líderes dos restantes 27 Estados-membros, implicando uma extensão longa a participação do Reino Unido nas eleições europeias.