O Governo mudou de política.
Ao aumentar significativamente as pensões de reforma (a que se deverá seguir um “abrir dos cordões à bolsa” no que se refere aos diversos serviços públicos) o Governo deixa (tarde) a sua política de fazer recair os custos da inflação sobre os rendimentos salariais e, parcialmente, sobre as pensões de reforma.
Independentemente do papel que nesta mudança trouxeram as sondagens - questão que não tenho competência para analisar -, o Governo justifica de novo a política que seguiu desde o ano passado até agora com a prudência necessária face à instabilidade política e económica resultante dos efeitos da pandemia e da guerra da Ucrânia.
Sem dúvida que também ajudou a seguir esta política a forma como muita gente, incluindo boa parte dos media começou a falar de crise económica quando não havia crise nenhuma: o crescimento económico continuou, embora com alguma natural desaceleração e os níveis de emprego continuaram a ser satisfatórios.
É certo que na actualidade e nas próximas décadas a economia mundial continuará a ser muito instável e poderá haver crises económicas e políticas muito graves. Mas isso não significa que estejamos sempre em crise. E agora não estamos, mesmo que possamos vir a estar nos próximos tempos. A verdade é que ninguém sabe. E como dizia o Senhor de La Palice: só estamos em crise quando estamos em crise, não quando há possibilidade duma crise.
Não é solução para lidar com esta instabilidade seguir políticas de fortes decréscimos de rendimentos reais, tanto dos trabalhadores como dos pensionistas. Por uma razão óbvia, aliás muito visível agora: reduzir os rendimentos reais cria uma perturbação muito significativa, que junta instabilidade social à instabilidade económica e política.