O Reino Unido acusou esta segunda-feira "hackers" chineses de estarem por detrás de um ataque informático à entidade responsável pela vigilância e acompanhamento dos processos eleitorais (o equivalente britânico à Comissão Nacional de Eleições), ação que terá exposto os dados pessoais de milhões de pessoas.
As autoridades de Londres concluíram ainda que um grupo com ligações a Pequim tentou invadir as contas de email de deputados britânicos críticos do regime chinês.
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros descreve uma tentativa de ataque informático, ocorrida em 2021, que visou políticos britânicos que se “destacaram na denúncia da atividade maligna da China”.
O outro ataque, que teve como alvo a Comissão Eleitoral da Grã-Bretanha, remonta a 2021-2022 e era conhecido pelo menos desde o ano passado, mas as autoridades britânicas ainda não tinham esclarecido quem era o responsável. O secretário dos Assuntos Externos, David Cameron, descreveu as sabotagens como “absolutamente inaceitáveis”, segundo o mesmo comunicado.
A embaixada chinesa em Londres ainda não comentou as acusações.
Normalização das relações chino-britânicas mais difícil
O governo dirigido por Rishi Sunak está a tentar encontrar um equilíbrio delicado entre a neutralização de ameaças à segurança representadas pela República Popular da China e, ao mesmo tempo, manter ou mesmo reforçar a cooperação bilateral em algumas áreas centrais como o comércio, o investimento e as alterações climáticas.
No último ano, a Grã-Bretanha fez esforços para melhorar os laços com a China depois do relacionamento entre os dois países ter atingido o ponto mais baixo em décadas sob o governo do ex-primeiro-ministro Boris Johnson, quando Londres restringiu alguns investimentos chineses devido a preocupações com a segurança nacional e expressou preocupação com a repressão às liberdades em Hong Kong.
Porém, mais recentemente tem havido uma ansiedade crescente relativamente à alegada atividade de espionagem da China no Reino Unido, numa altura em que se aproxima a data das eleições gerais naquele país, previstas para o final de 2024.
As tensões entre Pequim e as potências ocidentais sobre questões relacionadas com a ciberespionagem têm aumentado à medida que as agências de inteligência ocidentais soam cada vez mais o alarme perante a atividade de pirataria informática apoiada pelo Estado chinês.
No mês passado, autoridades de segurança disseram à Reuters que o governo dos EUA lançou uma operação de combate a hackers chineses que conseguiram comprometer milhares de dispositivos ligados à Internet. Dias depois, as agências de inteligência holandesas disseram que um grupo de ciberespiões chineses conseguiu ter acesso a uma rede militar na Holanda, no que consideraram ser uma tendência de espionagem política chinesa.
APT31: um grupo de hackers que atua por todo o mundo
O APT31, o grupo de hackers chinês por trás da violação dos emails de legisladores britânicos, tem um histórico de espionagem de políticos e seus funcionários.
Em 2020, pesquisadores de segurança do Google e da Microsoft alertaram que o grupo tinha como alvo os e-mails pessoais de funcionários da campanha de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos.
De acordo com a empresa norte-americana de segurança cibernética Secureworks, o APT31 tem também como alvo empresas jurídicas, de consultoria e de desenvolvimento de software.