"Sou mulher". Pugilista Imane Khelif conquista ouro nos Jogos Olímpicos
09-08-2024 - 22:24
 • Ricardo Vieira

Imane Khelif, envolta em polémica nos últimos dias, derrotou na final a chinesa Yang Liu.

A pugilista argelina Imane Khelif conquistou esta sexta-feira a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Imane Khelif, envolta em polémica nos últimos dias em relação ao género da atleta, derrotou a chinesa Yang Liu na categoria de menos 66 quilos.

"Sou uma mulher como qualquer mulher. Nasci mulher e vivo como mulher, mas há inimigos para o sucesso e eles não conseguem digerir o meu sucesso", disse Imane Khelif, em conferência de imprensa após conquistar o ouro em Paris.

Janjaem Suwannapheng, da Tailândia, e Chen Nien-chin, de Taiwan, conquistaram a medalha de bronze na categoria de pesos-médios.

A polémica estalou nos Jogos Olímpicos quando a italiana Angela Carini se retirou do combate de boxe contra a Imane Khelif poucos segundos depois de este ter tido início, por considerar que não estava a lutar contra uma mulher.

“Tentei lutar. Queria vencer. Recebi duas pancadas no nariz e não conseguia mais respirar, doeu muito, procurei o treinador Renzini e com maturidade e coragem disse basta”, contou a italiana depois do combate. “Sempre subi ao ringue com honra, sempre lutei, lealmente, pelo meu país, mas desta vez não consegui lutar mais”, acrescentou.

Além da pugilista argelina Imane Khelif, também a pugilista Lin Yu-ting, de Taiwan, esteve sob os holofotes nos Jogos de Paris devido a questões de género.

COI defende pugilistas

Em 2023, na India, a pugilista argelina Imane Khelif e a pugilista Lin Yu-ting, de Taiwan, foram excluídas pela Associação Internacional de Boxe (IBA) das finais da taça do mundo de boxe por terem chumbado num "teste de elegibilidade de género", que não foi especificado.

A Associação afirmou que as lutadoras “não cumpriram os critérios de elegibilidade para participação na competição feminina, conforme estabelecido e estabelecido no regulamento da IBA”.

Na sequência da polémica nos Jogos Olímpicos, o Comité Olímpico Internacional (COI) esclareceu que o nível de testosterona de Khelif está dentro dos parâmetros de uma mulher e que a argelina podia competir.

"Todos os atletas que participam no torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e de participação na competição, bem como todos os regulamentos médicos aplicáveis e definidos pela Unidade de Boxe de Paris 2024. Tal como em anteriores competições olímpicas de boxe, o género e a idade dos atletas são baseados no seu passaporte", afirma o COI, em comunicado.

O COI veio defender a participação da pugilista argelina e de Lin Yu-ting, de Taiwan, e contesta a posição da IBA.

“Vimos em notícias informações enganosas sobre duas atletas femininas a competir nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. As duas atletas competem há muitos anos em competições internacionais de boxe na categoria feminina, incluindo os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, campeonatos da Associação Internacional de Boxe (IBA), Campeonatos Mundiais e torneios sancionados pela IBA”, sublinha o Comité Olímpico.

Para o COI, as duas atletas foram vítimas de uma "decisão arbitrária da IBA" quando foram desqualificadas nos campeonatos de 2023.

Em entrevista concedida esta semana à BBC, o diretor-executivo da IBA, Chris Roberts, garante que foram encontrados cromossomas masculinos (XY) no caso das pugilistas argelina e de Taiwan.

No entanto, em conferência de imprensa, o presidente da IBA, Umar Kremlev, lançou a confusão parecendo sugerir que os testes serviram para determinar os níveis de testosterona das pugilistas.

O comentário contrariou um comunicado oficial da própria IBA, no qual declara que "as atletas não realizaram testes de testosterona".

Até ao momento, a IBA não apresentou qualquer documento que prove as alegações dos seus dirigentes.

[Notícia alterada às 22h55 de 10 de agosto de 2024 para melhor compreensão da diferença de posições entre o COI e a IBA e para esclarecer que não foram apresentadas provas que confirmem a alegação de dirigentes da Associação Internacional de Boxe, de que Imane tinha um cromossoma masculino no seu ADN. A indicação foi feita à agência noticiosa russa TASS pelo líder da IBA e pelo diretor-executivo da IBA à BBC. Enquanto isso, a Associação Internacional de Boxe negou em comunicado ter realizado testes de medição de testosterona, mas em conferência de imprensa o presidente daquele organismo contrariou o próprio comunicado da IBA. Após o afastamento das pugilistas das finais da taça do mundo de boxe, em 2023, a IBA não revelou os motivos. Referiu apenas que as atletas “não cumpriram os critérios de elegibilidade para participação na competição feminina, conforme estabelecido e estabelecido no regulamento da IBA”. Não há de momento quaisquer evidências de que Khelif tenha cromossomas XY]