Pedro Fraga, membro da direção da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, diz ter “vergonha de ser empresário num país onde o salário mínimo é de 820 euros".
Na Conferência Portugal sem Pobreza: desafios e oportunidades, organizada pela Cáritas Portuguesa, onde foi sublinhado o facto de Portugal ter cada vez mais trabalhadores pobres; o empresário garantiu que Portugal tem "um problema de distribuição de riqueza".
O representante da Associação Industrial de Braga na CIP, num discurso que vai contra a narrativa dominante entre os patrões, afirmou que "os principais lesados da carga fiscal que existe atualmente são os trabalhadores".
“É para mim absolutamente indecoroso que a carga fiscal que incide sobre o trabalho extraordinário seja exatamente a mesma que incide sobre o trabalho regular, o que penaliza fortemente o trabalhador. Ao contrário da ideia de que são as empresas as mais penalizadas pela carga fiscal existente, claramente que são os trabalhadores os mais penalizados”, reforçou.
IRC não é problema para "grande maioria das empresas"
Pedro Fraga garante que "o IRC não é um problema para a grande maioria das empresas", porque não pagam o imposto, e ao Estado, pede “respeito pelos empresários e pelas empresas”.
“As instituições da economia social que eu conheço bem são tratadas, normalmente, com desconfiança por parte da entidade Estado e as empresas são tratadas com uma enormíssima desconfiança pela entidade Estado”, referiu.
“Enquanto não percebermos que são as empresas que criam riqueza e que são as instituições da economia social que fazem este país andar - porque este país parava no dia em que essas instituições parassem - nós dificilmente vamos ter melhor distribuição de riqueza”, conclui.
Durante o debate promovido pela Cáritas Portuguesa, que decorreu na Católica Porto, foi apresentado o Estudo "Pobreza e Exclusão Social em Portugal: Uma visão da Cáritas". O documento sugere que a realidade da pobreza em Portugal é muito superior ao que nos apresentam as estatísticas e indica que está a aumentar a privação severa, considerando muito relevante o problema junto das crianças.
Liliana Lopes, da Estratégia Nacional de Combate, lembrou que o plano também "tem um foco específico na pobreza infantil" e garantiu que, "neste momento, está em curso a criação de um conjunto de núcleos de garantia para a infância". “Complementarmente há o aumento do abono de família, complementarmente há a questão da creche gratuita", sublinhou.
Já Margarida Ferreira Marques, da coordenação do movimento Economia de Francisco em Portugal, deixou aos presentes a pergunta que o Papa fez no encontro com jovens na Universidade Católica, aquando da JMJ Lisboa 2023: "Como é que os jovens e os empresários podem tornar melhor Portugal?
Combate não tem sido suficiente
Por sua vez, Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, garante que "o que tem sido feito não é suficiente para combater a pobreza".
A responsável lamenta que "apenas se tenha conseguido manter a pobreza ao nível do que apresentam os primeiros registos estatísticos sobre o assunto".
Rita Valadas promete "uma luta sem tréguas" ao fenómeno e lamenta a ausência do tema da pobreza do debate politico. "É o nosso compromisso. Nós não vamos deixar de olhar esta realidade e procurar as soluções”, garantiu.
A presidente da Cáritas promete continuidade no estudo do fenómeno da pobreza em Portugal e sublinha que o documento agora apresentado “mostra que a realidade vai muito para além dos números, o que também nos diz que temos uma grande responsabilidade pois estamos perto dos problemas”. “E essa proximidade obriga-nos a colaborar e a denunciar os problemas para que em conjunto possamos tentar encontrar soluções”, rematou.