Portugal está a negligenciar dois instrumentos fundamentais para fazer face à pandemia. Na opinião do infeciologista Jaime Nina a chave para combater a pandemia pode passar por ventilação anti-infeciosa e lâmpadas ultravioleta.
Este especialista questiona porque é que o Governo ainda não avançou com a instalação de sistemas de ventilação anti-infeciosa nos transportes públicos, por exemplo. “Eu não ouvi falar, e continuo sem ler em jornal nenhum, que Portugal comece a instalar sistemas de ventilação anti-infeciosa. O único transporte público que tem sistema de ventilação anti-infeciosa são os aviões, porque se não fosse isso não podiam voar fora de Portugal.”
“Como é obrigatório eles têm. Porque é que não se põe isso nos autocarros? Porque é que não se põe no metro? No caminho de ferro? Nas camionetas?”
Jaime Nina lembra, ainda, que o país podia recorrer a sistemas de lâmpadas ultravioletas para tentar controlar a incidência do novo coronavírus. “O vírus é muito sensível à radiação ultravioleta. Por isso que houve aquele intervalo livre nos meses de verão, o vírus não sobrevivia à radiação do sol, e quem diz radiação do sol diz das lâmpadas.”
“Há locais que têm lâmpadas ultravioletas. Há muitos anos que é obrigatório nos blocos operatórios, mas não é de forma generalizada e podia ser, nos supermercados, nos centros comerciais, para além dos hospitais e centros de saúde”, diz.
Aposta nos testes e confinamento
O infeciologista dá um exemplo onde estão a ser usadas ambas as estratégias, para além de uma forte aposta na testagem e nos rastreios. “Singapura, por exemplo, com uma população comparável a Portugal, um bocadinho inferior, até agora teve 29 mortos. Porquê? Porque se for a Singapura não consegue entrar num hotel, numa barbearia, num supermercado que não tenha lâmpadas ultravioletas e ventilação anti-infeciosa. Em Portugal nunca se fez.”
“O rastreio de casos é feito lá desde o primeiro dia, em Portugal só agora é que se está a falar que se deve começar a fazer testes em massa, estamos com um ano de atraso", acusa ainda.
Por estas razões, e pelo estado da pandemia atualmente em Portugal, Jaime Nina, faz sentido prolongar o confinamento ao longo do mês de março. O especialista concorda ainda com as razões apontadas por António Costa – o número reduzido de vacinas que tem chegado a Portugal e o aparecimento de novas variantes do vírus.
“Deixámos chegar à situação do confinamento, que é suposto ser arma de último recurso. Teve de avançar para primeira linha, para controlar a epidemia, e os motivos invocado são perfeitamente certos, o atraso na vacinação. Israel, por exemplo, pagou mais do dobro do preço pela vacina da Pfizer, enquanto os outros países que foram mais poupadinhos, nomeadamente a União Europeia, incluindo Portugal, ficaram para trás.”
“As estirpes, nomeadamente a sul-africana, tem uma certa preocupação. À partida faz todo o sentido o confinamento ser prolongado", conclui.