Há 11 anos, o novo Papa revelou, logo nos primeiros dias, o seu estilo e prioridades. Escolheu o nome de Francisco, saudou o mundo vestido simplesmente de branco, sem as habituais vestes vermelhas e pediu a todos para rezar por ele, pedido que mantém até aos dias de hoje.
Na manhã seguinte à eleição, ainda o conclave não estava encerrado, saiu de surpresa do Vaticano, num carro utilitário e foi rezar à padroeira de Roma, na basílica de Santa Maria Maior, local que, desde então, visita com frequência e onde já disse querer ser sepultado.
Ainda naquela manhã, antes de regressar ao Vaticano, Francisco foi pagar a conta numa residência para o clero, onde se tinha alojado até entrar para o conclave. Poucos dias depois, abdicou do apartamento pontifício e passou a viver na Casa Santa Marta, uma hospedaria junto aos jardins do Vaticano. Ele próprio justificou a decisão por sentir a necessidade de conviver com muita gente. Desde então, é frequente vê-lo sentado à mesa com alguns hóspedes e até convidar pessoas sem-abrigo para uma refeição.
Francisco apostou numa Igreja “em saída”, ao encontro de todos, com especial preferência pelos mais pobres, descartados e indefesos. E, neste pontificado recheado de encontros, não faltam exemplos desta inédita proximidade.
Pela primeira vez, numa Quinta-feira Santa, vimos um Papa a celebrar a Ceia do Senhor numa prisão juvenil, opção que todos os anos renova, numa instituição diferente. Francisco celebra a missa e lava os pés a 12 dos muitos “feridos da vida” que lá vivem. Este ano a sua preferência vai para um cárcere feminino, em Roma.
Testemunhámos a urgência de Francisco em Lampedusa, para chamar a atenção do mundo para a tragédia dos refugiados migrantes. As suas deslocações a Lesbos, a arriscada viagem à República Centro-Africana, onde abriu a porta santa da misericórdia, na catedral de Bangui, situada no bairro muçulmano daquela capital devastada pela violência e destruição, sacodem a consciência de muitos.
Ao tocar com a mão a miséria dos “slums” de Nairobi ou abraçar as vítimas e os mutilados das guerrilhas, em Kinshasa; quando entra nas favelas do Brasil e bebe “um cafezinho” com alguns moradores ou arrisca a vida numa visita ao Iraque para confirmar na fé a minoria cristã, Francisco testemunha uma fascinante preferência para com os mais esquecidos e incómodos. E não olha a meios para ir ao seu encontro.
Nestas poucas linhas é impossível esgotar tantos momentos preciosos de humanidade e ternura que Francisco protagoniza.
Para muitos, estes gestos e opções do Papa poderão parecer uma gota no oceano ou uma voz que brada no deserto, mas a sua esperança e o seu realismo levam-no a não desistir. Porque é nestes encontros que o Sucessor de Pedro identifica as chagas de Cristo vivo e, deste modo, tenta ajudar-nos a fazer o mesmo. Para o nosso bem e para o bem de todos.