O Presidente da República salienta que Portugal "tem aliados tradicionais", como Estados Unidos e Inglaterra, mas defende que com a China existe "algo muito especial", uma "fraternidade que é insubstituível".
Marcelo Rebelo de Sousa expõe o seu pensamento sobre as relações luso-chinesas numa entrevista ao canal de televisão chinês internacional em língua inglesa CGTN, transmitida esta segunda-feira, na véspera do início da visita de Estado do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, a Portugal, que decorrerá entre terça e quarta-feira.
Nesta entrevista, gravada no dia 12 de novembro, no Palácio de Belém, em Lisboa, e a qual à agência Lusa assistiu, o chefe de Estado manifesta-se convicto de que "é possível o diálogo" entre Estados Unidos e China, a propósito da Cimeira do G20, e diz que "tem de se compreender que cada um deles tem as suas próprias instituições e as suas próprias lógicas políticas".
Neste contexto, refere: "Os Estados Unidos da América são uma democracia, uma democracia forte, com eleições. E, portanto, muitas decisões são tomadas a pensar, não só no interesse do país, claro, o que é natural, mas também tendo em conta a perceção do eleitorado".
Pela parte chinesa, segundo o Presidente da República, "é também muito útil que a China explique, de certo modo, a sua perceção do mundo", porque "este diálogo de perceções é muito útil".
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, no plano global deixou de haver "um só superpoder" e há um novo quadro que "requer o multilateralismo". Portugal, sustenta, "está em posição de ser muito bom nisso".
"No caso da China, somos complementares"
No que respeita às relações luso-chinesas, defende que "são de certo modo insubstituíveis", porque existe uma complementaridade, e admite no futuro "um trabalho em parceria" através de "uma presença conjunta noutros países e continentes como a América do Sul ou África".
"Nós temos aliados tradicionais, claro, dentro da União Europeia, os Estados Unidos da América, o Canadá, e outros, começando pela Inglaterra, que foi o nosso primeiro aliado histórico. Mas com a China é algo muito especial", defende, acrescentando: "No caso da China, somos complementares".
Marcelo Rebelo de Sousa recorda que deu aulas em Macau, de direito, ciência política e administração, nos anos de 1980, e observa, dirigindo-se para a entrevistadora Liu Xin, que tem um programa diário com o seu nome na CGTN: "Sabe que Macau nunca foi considerada uma colónia portuguesa? Nunca, porque era chinesa".
"Nós sentimos que descobrimos, não hoje, mas há 500 anos, uma espécie de fraternidade, uma fraternidade convosco que é insubstituível. É diferente de tudo o que temos na nossa história e no nosso passado, presente e, estou certo, futuro", reforça.
Interrogado sobre os setores em que espera um reforço da cooperação entre Portugal e a China, o Presidente da República aponta, em primeiro lugar, a educação, "porque é o futuro", em segundo lugar, a cultura, "ponto-chave para o conhecimento mútuo".
Em terceiro lugar, Marcelo Rebelo de Sousa quer mais cooperação entre "movimentos sociais, instituições sociais, fundações de cuidados de saúde, fundações científicas, fundações tecnológicas, diferentes instituições cooperem".
Só depois menciona a economia. "Sim, em último, sabe porquê? Porque é o mais fácil", justifica.
O chefe de Estado destaca que há "presença chinesa no setor bancário, no setor dos seguros, no sistema de cuidados de saúde privado, também no importante setor da energia, nalgumas infraestruturas", ou seja, na "maioria dos setores-chave da economia" portuguesa.
"E isso aconteceu em menos de dez anos. É por isso que eu disse que é mais fácil trabalhar e cooperar económica e financeiramente do que é culturalmente, na educação e socialmente", argumenta.
Numa outra entrevista, à agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, também divulgada hoje, Marcelo Rebelo de Sousa descreve as relações luso-chinesas como "excecionais" e congratula-se com o posicionamento da China face à União Europeia.
"Devo reconhecer com satisfação que a China entende a União Europeia, percebe que a União Europeia é um protagonista fundamental na escala universal. Por isso, a China defende que a União Europeia deva ser unida, e não dividida, e que tenha um papel cada vez mais forte no mundo. Isso é positivo", declara.