O Tribunal de Loures adiou para 7 de maio o início do julgamento de dois dos homens mais procurados pelas autoridades argentinas, detidos em Aveiro, em 2016, e outros três arguidos, acusados de roubos violentos a bancos.
A primeira sessão estava agendada para a tarde desta segunda-feira, sob fortes medidas de segurança, mas o coletivo de juízes teve de adiar porque a advogada de um dos cinco arguidos informou que o seu cliente só recebeu a notificação do despacho da marcação de início de julgamento a 8 de março, indicando que não iria prescindir do prazo de 20 dias para apresentar contestação.
O Tribunal de Loures marcou assim para as 14h00 de 7 de maio a "tomada de declarações" dos arguidos que o quiserem fazer, e agendou ainda sessões para os dias 8, 9, 10 e 11 de maio, sempre todo o dia, para inquirição de testemunhas.
O coletivo de juízes, composto por Elisabete Reis (presidente), Ana Batista e João Claudino (adjuntos) procedeu à identificação dos arguidos, mas Horacio Maidana, braço-direito do alegado líder do grupo, Rodolfo "El Ruso" Lohrman, afirmou não ser essa pessoa, antes Jairo Casanova, natural de Caracas, Venezuela, e não da Argentina.
Antes do início da sessão, operacionais do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GIPS) inspecionaram a sala de audiência, com a ajuda de dois cães, e as pessoas que assistiram à sessão foram revistadas por agentes da PSP, que estavam de reforço ao forte dispositivo de segurança montado para este julgamento.
No interior da sala e no seu exterior mantiveram-se, em permanência, vários elementos do GIPS e da PSP, fortemente armados.
À saída do tribunal, o advogado do principal arguido, Rodolfo "El Ruso" Lohrman, referiu que o seu cliente nega a "grande parte" dos factos descritos na acusação do Ministério Público. Lopes Guerreiro contou que o que mais preocupa o seu constituinte é a possibilidade de vir a ser extraditado para a Argentina, país onde tem ameaças de morte.
Rodolfo "El Ruso" Lohrman e a Horacio Maidana, de 53 e 57 anos, detidos preventivamente na prisão de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, são suspeitos, em 2003, em conjunto com outros elementos, do sequestro de Christian Schaerer, à data com 21 anos, estudante de direito e filho de um empresário da província de Corrientes, perto da fronteira com o Paraguai.
Os autores exigiram um resgate para a sua libertação, mas até hoje o jovem nunca apareceu.
Quando foram detidos, a 16 de novembro de 2016 pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da PJ, no momento em que se preparavam para assaltar uma carrinha de valores, os dois apresentaram identidades falsas. Só meses depois é que a PJ descobriu as suas verdadeiras identidades: dois dos criminosos mais procurados pelas autoridades argentinas.
Os outros arguidos - Manuel Garcia, guatemalteco, 32 anos, e Christian Gomez, 35 anos, de nacionalidade espanhola - estão em prisão preventiva ao abrigo deste processo, enquanto Jaime Fontes, português, 33 anos, está a cumprir pena por tráfico de droga, no âmbito de outro processo.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, antes de meados de agosto de 2014, os arguidos organizaram-se num grupo, que tinha "o seu modo de viver único e exclusivo", para a prática de roubos a instituições bancárias em Portugal, liderado por Lohrman.
A acusação conta que o grupo começava por fazer reconhecimentos a instituições bancárias, para verificar as suas rotinas e as horas em que tinham elevadas quantias de dinheiro, nomeadamente quando os funcionários contabilizavam os depósitos diários e nas caixas multibanco, de preferência à segunda-feira, devido ao dinheiro acumulado no fim de semana.
Escolhido o dia e hora do assalto, o grupo atuava com grande violência, recorrendo a marretas, armas de fogo (pistolas e caçadeiras) e força física.
A acusação indica que o grupo assaltou quatro bancos (três no concelho de Odivelas e um em Cascais), entre 2014 e 2016, conseguindo levar, ao todo, cerca de 235 mil euros, que foram transferindo para o estrangeiro, e furtado cinco viaturas.
Os arguidos estão acusados de associação criminosa, e de vários crimes de roubo qualificado, furto qualificado, falsificação, branqueamento de capitais, detenção de arma proibida, condução sem carta e alguns respondem ainda por falsas declarações.