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Antes de fazer aquilo que diz que gosta de fazer, "malhar na direita", Augusto Santos Silva bateu forte na outra esquerda, clarificando os receios do PS em relação ao poder de influência do Bloco e do PCP na próxima legislatura.
Falando para um pavilhão apinhado de gente, em Matosinhos, o ministro dos Negócios Estrangeiros falou "desses que querem que Portugal gaste 30 mil milhões de euros para nacionalizar empresas" e daqueles que dizem "que isso das contas certas não interessa a ninguém".
Ora, sobre "esses", ou seja, Bloco de Esquerda e PCP, Santos Silva defendeu que "não podem ter um poder desmedido, não podem ter uma influência desmesurada na próxima legislatura".
É olhar para Espanha para perceber o que pode acontecer aos socialistas "quando não têm a força necessária" e, de forma sibilina, concluiu que, "quando as forças que têm dúvidas em relação à moderação, ao equilíbrio, à estabilidade, em relação à Europa, têm uma força desmedida, não há estabilidade política e, se não há estabilidade política, as condições económicas pioram e a vida torna-se mais difícil".
Falando num estilo muito próprio, devagar e calmamente, Santos Silva disse, no entanto, que quer "continuar o mesmo diálogo com a esquerda, mas que para isso é preciso a força do PS" e ainda "diálogo no Parlamento sim, mas é preciso dar força ao PS".
Quem pode confiar em Rio e o "afundanço" de Cristas
Mesmo sem nunca falar do caso em concreto e sem nunca proferir a palavra "Tancos", toda a gente percebeu do que é que o ministro dos Negócios Estrangeiros estava a falar no pavilhão em Matosinhos.
Augusto Santos Silva começou por dizer que o PS não quer "trazer as instituições da República Portuguesa para a lama" e defendeu que existe "um nível de degradação da linguagem política, há um nível de ataque, de calúnia, de ofensa pessoal que degrada a democracia".
O dirigente socialista insistiu na tese de que a "justiça e a política são diferentes" e que" as questões judiciais resolvem-se nos tribunais e as questões políticas tratam-se no Parlamento, tratam-se na política".
Pelo meio, o ministro a fazer também uma curiosa referência aos militares portugueses dizendo que "as forças Armadas são uma instituição representativa de todo o país" e depois entrou nas críticas aos líderes do PSD e do CDS.
Começando por Rui Rio, o ministro de Costa chegou mesmo a questionar no discurso se se pode "confiar numa pessoa assim" que num dia diz "que ser investigado, não quer dizer arguido, ser arguido, não quer dizer acusado, condenado e que só há um sítio para resolver isto que são os tribunais" e noutro dia esperou pela "primeira oportunidade para desdizer a sua própria teoria".
Depois, foi a vez de Assunção Cristas e quando Santos Silva referiu o nome da líder do CDS houve fortes assobiadelas da plateia, o que não se tinha ouvido ao falar de Rio.
Sobre a centrista, o dirigente do PS disse que "parece querer afundar o nível do debate político e democrático em Portugal, mas é hoje evidente para todos e basta olhar para as sondagens que quem vai afundar-se é ela própria pelo sufrágio dos portugueses".
O almoço-comício ficou ainda marcado pelos protestos dos representantes dos lesados do Banco Espírito Santo à porta do pavilhão em Matosinhos, com buzinas e tarjas escritas a encarnado acusando o Governo e os socialistas de "mentirosos" e assumindo-se como os "roubados do BES".
Santos Silva "trauliteiro", segundo Rio
O líder do PSD, Rui Rio, respondeu na rede social Twitter ao discurso do ministro dos Negócios Estrangeiros.
"Santos Silva regressou ao seu estilo mais trauliteiro, ao jeito de “gosto de malhar na direita”. Se não contarmos com a questão da proliferação dos próprios familiares em cargos públicos, constatamos que baixou para o nível de Carlos César", escreveu Rui Rio.