Um destino pronto a receber turistas de todas as idades, com uma multiplicidade de interesses e durante todo o ano. O objetivo é crescer com qualidade e acrescentar valor aos produtos. Mas também que mais companhias aéreas assegurem voos para o Funchal, afirmou o Secretário Regional do Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, num encontro com jornalistas no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.
A prova está nos resultados obtidos, por exemplo em janeiro deste ano: uma subida de 31% nas receitas face ao mesmo mês de 2019. Os turistas que vão do Continente dão um forte contributo. No ano passado mais de meio milhão de portugueses fizeram férias na Madeira.
2022: melhor ano turístico de sempre na região
No último ano, o arquipélago da Madeira recebeu mais de 4 milhões de passageiros, que garantiram quase 10 milhões de dormidas. Entre eles, 520 mil turistas que foram do Continente e que significaram 1.8 milhões de dormidas.
E as perspetivas de crescimento continuam para 2023. Só em janeiro – que habitualmente era o mês mais fraco do ano - as receitas já cresceram 31% face a 2019. E segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, em relação a 2020, o crescimento do número de hóspedes foi de quase 40%. 128.500 turistas estiveram no Arquipélago, contribuindo decisivamente para um novo recorde turístico. Portugal recebeu mais de 1,4 milhões de turistas.
A ligação dos turistas nacionais intensificou-se durante o período de pandemia e mantém-se. “Temos a maior oferta de lugares de sempre na aviação. Em relação ao mercado nacional, vai aumentar 11%”, referiu o Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira num encontro com jornalistas.
O mercado nacional, atualmente, é o terceiro para a Madeira e representa 19% do total de turistas. A liderança é ocupada pelo Reino Unido (21%), seguido da Alemanha (20%). Atrás do mercado português surge o francês e em 5º lugar, o polaco. “Apesar da guerra, continua a crescer bem e representa já 5%”.
A estadia média está em 4,79 dias. A do mercado português já ultrapassa os 3 dias, mas britânicos e alemães, em geral, ficam por períodos de sete dias.
A prioridade é conservar os mercados europeus e tirar partido das oportunidades que apareçam. Por exemplo, antes da guerra, os mercados de Leste (nomeadamente da Rússia e Ucrânia) estavam em crescimento e Eduardo Jesus espera que depois possam ser retomados.
Entretanto, já existe ligação do Aeroporto JFK (Nova Iorque) para o Funchal, uma ligação que inicialmente foi pensada apenas para o inverno, mas que agora, será para todo o ano. Em negociação está também a ligação a Toronto, no Canadá.
Outro mercado emissor em que a Madeira quer apostar é no Brasil, aproveitando o programa Stopover da TAP. “A Europa é consolidar, a América é para afinar”, conclui Eduardo Jesus.
Criar valor. Hotéis não vão ter mais de 80 quartos
“Levámos muito tempo a equilibrar o “boom” de camas criado nos anos 90 devido à facilidade de investimento à custa dos funcos comunitários com o valor que queremos criar.
Agora estamos mais interessados na qualidade, no valo acrescentado e isso também implica melhorar as condições para os colaboradores. Além disso é preciso fazer manutenção, reabilitação e tudo isso requer meios. Este é um bom momento para recuperar dos dois anos de pandemia e investir na requalificação. “
Segundo o Plano de Ordenamento de Turismo da Madeira, os novos hotéis não poderão ter mais de 80 quartos e um máximo de 160 camas.
“A Madeira não se pode deixar embalar no crescimento descontrolado do setor”, frisou o Secretário Regional do Turismo e Cultura, que acumula com a presidência da Agência de promoção Turística da Madeira.
Novos produtos para todas as idades. Somar e não substituir turistas
Para Eduardo Jesus não se trata de mudar, mas dentro dos mesmos mercados emissores conseguir ter produtos turísticos que interessem tanto aos mais velhos como aos mais jovens. O que está a ser conseguido.
“Durante a pandemia cerca de 2.000 pessoas (nómadas digitais) trabalharam a partir da Madeira para todo o mundo. Começámos a receber muita gente jovem, casais com filhos pequenos, o panorama é diferente. Há uma coabitação entre os mercados mais tradicionais e os mais jovens. Hábitos diferentes alimentam novas ofertas. É somar e não substituir, frisa Eduardo Jesus.
"Não prevemos restrições" no Alojamento Local na Madeira
O Alojamento Local na Madeira é responsável – teoricamente – por 48% da oferta de camas. Diz respeito aos licenciamentos, mas na prática, só significam 23% das dormidas totais. “E são números que obtemos através da ALEP- Alojamento Local em Portugal – porque o INE só contabiliza os alojamentos turísticos com mais de dez camas. No entanto, o AL que funciona está com taxas de ocupação de 80-90%”, refere o responsável do Turismo madeirense que defende uma análise do AL em termos de densidade turística.
Para Eduardo Jesus, o Alojamento Local não é um problema para a habitação e considera que é preciso fazer uma análise, ver o rácio entre as dormidas e a população onde se insere, encontrando um ponto de equilíbrio. O responsável regional referiu mesmo a sugestão deixada ao Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços.
Nuno Fazenda de fazer um levantamento a nível dos municípios, adiando decisões sobre eventuais mudanças para mais tarde, seis meses, por exemplo.
Capacidade instalada. Falta gerir utilização
No ano passado a Madeira registou quase 10 milhões de dormidas, a ocupação foi de 61%, “portanto, ainda há espaço de progressão”.
O alojamento tradicional (hotelaria) tem 34 mil camas e o alojamento local, 23 mil. O Plano de Ordenamento de Turismo prevê um máximo de 40 mil camas em 2027, mas Eduardo Jesus considera que esse número não vai ser atingido. “O que é importante é valorizar e não aumentar a quantidade. O desafio que vêm aí para este setor é inacreditável e exige um grande investimento. A inovação traz benefícios, mas é cara.”
A capacidade existe, mas é preciso gerir melhor os fluxos. Não podem vir todos em agosto ou pensar em levar os turistas todos para o Pico do Arieiro às 8 e meia da manhã. É preciso coordenar toda esta oferta os promotores turísticos, o que de certa forma também já está a acontecer. Razão que leva Eduardo Jesus a concluir que “na Madeira a sazonalidade está muito esbatida.”