O Papa Francisco associa a caminhada sinodal à Mensagem para a Quaresma deste ano. Com o título “Ascese quaresmal, itinerário sinodal”, o texto, divulgado esta sexta-feira pela Santa Sé, convida os fiéis a um caminho de conversão e ascese espiritual para “superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz”.
Tal com Jesus se retirou com três discípulos para o Monte Tabor, assim também a Igreja peregrina no tempo convida a fazer o mesmo, ou seja, pôr-se a caminho, em subida, “que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha”.
Francisco explica que “estes requisitos são importantes também para o caminho sinodal, que nos comprometemos, como Igreja, a realizar”. Ou seja, tanto no itinerário litúrgico da Quaresma como no do Sínodo, “a Igreja não faz outra coisa senão entrar cada vez mais profunda e plenamente no mistério de Cristo Salvador”.
O Papa compara este percurso a uma “esforçada excursão de montanha” que, ao subir, é preciso manter os olhos bem fixos na vereda; mas o panorama que se deslumbra no final surpreende e compensa pela sua maravilha. ”Com frequência também o processo sinodal se apresenta árduo e por vezes podemos até desanimar; mas aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente, que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão ao serviço do seu Reino”, escreve Francisco.
Neste percurso, a caminho da transfiguração, o Santo Padre propõe duas veredas “necessárias para subir juntamente com Jesus e chegar com Ele à meta”.
A primeira vereda é Jesus.” A Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala. E como nos fala Ele? Antes de mais nada na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia: não a deixemos cair em saco roto; se não podermos participar sempre na Missa, ao menos leiamos as Leituras bíblicas de cada dia valendo-nos até da ajuda da internet” E acrescenta que, “além da Sagrada Escritura, o Senhor fala-nos nos irmãos, sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda”. E esta escuta recíproca “é o objetivo principal, mas permanece sempre indispensável no método e estilo duma Igreja sinodal”.
A segunda indicação do Papa para esta Quaresma é “não se refugiar numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas diárias, as suas durezas e contradições”.
Com palavras realistas, o Papa recorda que fazer um «retiro» não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição. “Também o percurso sinodal não nos deve iludir quanto ao termo de chegada, que não é quando Deus nos dá a graça de algumas experiências fortes de comunhão, pois aí o Senhor também nos repete: «Levantai-vos e não tenhais medo». Desçamos à planície e que a graça experimentada nos sustente para sermos artesãos de sinodalidade na vida ordinária das nossas comunidades”.