O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Monteiro considera que para a história do país ficará sempre a dúvida sobre o papel de Henry Kissinger no chamado PREC, o tempo do "processo revolucionário em curso" no pós-25 de abril.
No dia da morte do antigo Secretário de Estado norte-americano, o antigo embaixador de Portugal na ONU diz à Renascença que Kissinger “vai estar sempre ligado às dúvidas quanto ao seu papel no apoio à nossa evolução democrática, no período que se seguiu ao 25 de Abril”.
“Há muitas versões. Aquelas que dizem que quase teria desistido de evitar que que houvesse um novo período totalitário em Portugal. Até aquelas que consideram que, no imediato, terá dado o seu apoio ao Partido Socialista e a Mário Soares. Posição que terá contribuído definitivamente para que a democracia se consolidasse no nosso país”, recorda
António Monteiro lembra que, durante os anos que esteve em Nova Iorque, como representante de Portugal junto das Nações Unidas, teve a oportunidade de assistir a várias conferências proferidas por Henry Kissinger, momentos em que o agora desaparecido político olhava para o mundo “de uma forma positiva, sempre com a ideia de que a democracia venceria e que era preciso defendê-la, contribuindo para que não se voltasse a cair em tentações totalitárias”.
Para o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Henry Kissinger “é um nome incontornável das últimas décadas”, uma vez que “as suas políticas moldaram o mundo”.
“Tiveram uma influência determinante não apenas na afirmação da hegemonia norte-americana em largos períodos da política internacional, mas, também, com repercussão direta para tudo o que aconteceu no mundo”, aponta.
Está neste caso a política que teve enquanto Secretário de Estado de Nixon, quando Washington decidiu “incluir a China na cena internacional, dando a Pequim o papel que era, até então, de Taiwan”.
Isso mudou o mundo. Alterou tudo aquilo que eram as perspetivas que havia até então de equilíbrio de poderes a nível mundial”, remata António Monteiro.