O antigo consultor para a saúde da Presidência da República, Mário Pinto, chegou nervoso e com alguma pressa à comissão Parlamentar de inquérito ao caso das Gémeas. Mas começou de imediato por garantir que "não tem nada a ver com o assunto" do caso das gémeas e que a única pessoa que conhece no processo é António Lacerda Sales, ex-secretário de Estado da Saúde.
Mário Pinto, ouvido esta sexta feira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao caso das gémeas, garante que teve conhecimento do caso apenas pela televisão e pelos jornais. O ex-assessor de Marcelo Rebelo de Sousa afirma que nunca comentou o assunto nem com outros assessores, nem com o Presidente da República, nem com Nuno Rebelo de Sousa, o filho do Presidente que diz não conhecer.
O antigo consultor de Belém confirma ter tido "reuniões" com António Lacerda Sales que ocorriam "de dois em dois meses". Mário Pinto diz que os dois "falavam de outras coisas, mas sobre isso nunca", assim como "nunca falou" sobre o caso da bebé Matilde.
Mário Pinto confirma a reunião de 6 de setembro de 2019 com António Lacerda Sales, à qual diz "não ter dado valor nenhum" porque falaram apenas sobre a situação das "urgências".
Sobre o facto de António Lacerda Sales ter mencionado o nome de Mário Pinto na audição na CPI, o antigo assessor da Presidência diz que o ex-secretário de Estado da Saúde o avisou antes e defende que António Lacerda Sales "não disse a verdade". Mário Pinto diz que chegou a telefonar a Lacerda Sales e que ele não o atendeu.
Mário Pinto diz ainda aos deputados que saberia se o assunto fosse falado na Presidência. "Se se falasse em Belém , eu ouvia", disse. Já sobre o que se passava em Belém, o antigo consultor afirmou que a presidência "é um local de muitos segredos".
O antigo consultor da Presidência admitiu ainda ter marcado consultas para funcionárias. "Marquei uma consulta a uma funcionária que tinha cancro da mama", diz. No entanto deixa a garantia que nunca esteve relacionado com o caso das gémeas.
Empresário interferiu para tentar contacto de Teresa Moreno
Acompanhado por um advogado e mais calmo que Mário Pinto, o empresário José Magro confirmou que tomou conhecimento do caso das gémeas em 2019. O consultor de empresas começou por descrever que foi membro entre 2009 e 2019 da direção da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Brasileira, período em que conheceu Nuno Rebelo de Sousa.
O caso das gémeas foi-lhe comunicado por Eduardo Migliorelli, um empresário brasileiro a viver em Portugal, que a 8 de outubro de 2019 lhe pediu os contactos de Teresa Moreno e José Vieira - dois médicos.
Por conhecer o diretor comercial do Hospital Lusíadas onde trabalhava Teresa Moreno, José Magro tentou por essa via o contacto da médica. Entretanto, soube que Nuno Rebelo de Sousa também procurava esse contacto através de mensagens que trocou com o filho do Presidente da República. José Magro diz que "sugeriu" a Nuno Rebelo de Sousa que "enviasse um e-mail a Vítor Almeida (director comercial do Hospital Lusíadas)" colocando o endereço de José Magro em conhecimento (Cc). Desta forma, o empresário explica como é que o seu contacto é colocado no e-mail enviado pela mãe das crianças ao Hospital Lusíadas onde inicialmente as gémeas tinham uma consulta marcada.
Na Comissão Parlamentar de Inquérito, o empresário acaba por contar que a 22 de outubro de 2019, Nuno Rebelo de Sousa lhe diz "que não é necessário e que vai fazer de outra forma". José Magro garante que desde esse dia nunca mais soube nada sobre o caso até o mesmo se tornar público na comunicação social, garantindo que durante o processo em que se limitou em tentar o contacto de Teresa Moreno, teve contactos apenas com três pessoas : Eduardo Migliorelli (o empresário que pediu ajuda), Vítor Almeida (diretor comercial do Hospital Lusíadas) e Nuno Rebelo de Sousa ( filho do Presidente da República).
José Magro garante que "não marcou consulta, não teve contacto com o Presidente da República, nem com primeiro ministro, nem ministra da saúde, nem com o secretário de estado da saúde", o empresário fiz que apenas tentou "ajudar apenas a concessão de um contacto" e que o fez por "dever de cidadania " e porque também é pai.
O empresário garante não conhecer nenhum dos familiares das crianças, nem Juliana Drummond - companheiro de Nuno Rebelo de Sousa. José Magro diz que voltou a falar com o diretor comercial dos Lusíadas apenas quando o caso se tornou público, "teremos trocado mensagens".
A dúvida que fica entre os deputado é saber como é que a mãe das crianças sabia que podia colocar o endereço de José Magro em conhecimento no e-mail, uma vez que o empresário nunca falou com Daniela Martins e que Daniela Martins garantiu não conhecer Nuno Rebelo de Sousa que foi quem recebeu a indicação de José Magro.
Antes da pausa entre 30 de outubro de 2 de dezembro para a discussão do Orçamento do Estado, a Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas ouve na terça feira António Carapeto, na qualidade de Inspetor-Geral das Atividades em Saúde e José Pedro Vieira, na qualidade de Diretor de neuropediatria do Hospital Dona Estefânia.