Até maio o Santuário de Fátima recebeu 1,6 milhões de peregrinos, mais do que em todo o ano de 2020. Em entrevista à Renascença o padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário, mostra-se otimista, mas alerta que, pela sua especificidade, a retoma do Turismo Religioso é mais lenta. Os peregrinos de países longínquos, nomeadamente, da Ásia, ainda não voltaram.
“Nota-se claramente um regresso”, diz o padre Carlos Cabecinhas, Reitor do Santuário de Fátima, em entrevista à Renascença, poucos minutos antes do início da 10ª edição dos Workshops Internacionais de Turismo Religioso, que decorrem hoje e amanhã em Fátima e continuam depois, na Guarda.
Até maio Fátima recebeu 1,6 milhões de peregrinos, mais do que os 1,4 milhões de todo o ano de 2020, em plena pandemia. O ano passado já foram 2,5 milhões, mas os números ainda estão muito distantes dos 6-6,5 milhões de peregrinos que se deslocam a Fátima num ano normal. E apesar da recuperação clara, ainda não será em 2022 que se chegará aos níveis de 2019, é a convicção do padre Carlos Cabecinhas.
“O Turismo Religioso tem algumas características específicas que faz com que a retoma seja mais lenta do que no setor do que a nível geral”. Há uma grande dependência de grupos organizados e muito especialmente, dos de longa distância, nomeadamente da Ásia.
“Até 2019 estávamos a assistir a um crescimento cada vez maior de peregrinos vindos da Coreia do Sul, das Filipinas, do Vietname”. Depois da pandemia, ainda não regressaram, mas o Reitor do Santuário espera que tal aconteça em breve. A guerra na Ucrânia e a inflação crescente que gera uma quebra do poder de compra, também travam a vontade de quem quer viajar.
Ainda assim, há notas animadoras todos os dias: na peregrinação de maio participaram 62 grupos portugueses e 56 estrangeiros, nomeadamente do Brasil, Estados Unidos, Cabo Verde, El Salvador, Canadá, França, Polónia e a maior parte, de Espanha, revelou o Padre Carlos Cabecinhas aos cerca de 500 participantes nos Workshops Internacionais de Turismo Religioso.
Fátima está a preparar o acolhimento dos jovens da JMJ23
Nesta altura o Santuário já se está a preparar para acolher os muitos milhares de jovens que vêm a Portugal no próximo ano para participar na Jornada Mundial da Juventude e que também querem ir a Fátima.
“Temos essa noção e estamos a trabalhar com a organização da JMJ23 para o seu acolhimento efetivo”, garantiu o reitor do Santuário. “Com a JMJ de Madrid, em 2011, tivemos muitas e muitas centenas de jovens de todo o mundo que passaram por Fátima porque era perto. Agora, sendo em Portugal, muitos mais quererão cá estar. E estamos a preparar-nos para os acolher, para que tenham uma experiência feliz que os leve a querer regressar”, disse Carlos Cabecinhas à Renascença.
Pandemia deixou marcas e lições
Recuperar os grupos estrangeiros é um processo que avança muito lentamente. Essa é uma das marcas que na opinião do Padre Carlos Cabecinhas, a pandemia deixou. Por outro lado, os grupos organizados que agora chegam a Fátima são mais pequenos. “Há cada vez mais pessoas a vir por livre iniciativa, em família, em pequenos grupos ou até individualmente. Penso que pode ser uma tendência duradoura”.
A pandemia abrigou a intensificar e acelerar os esforços para tornar o Santuário acessível a quem não pode vir a Fátima. “Houve um forte investimento (no digital, nomeadamente) que queremos que permaneça”.
Em termos económicos, 2020 foi um ano muito difícil para o Santuário de Fátima. Mas o ano passado já se registou algum equilíbrio nas contas, embora muito abaixo das receitas de 2019(cerca de 20 milhões de euros).
Num encontro com hoteleiros e casa religiosas que acolhem peregrinos que decorreu em março, o reitor apontou para cerca de 15 milhões de euros de receita em 2021, pouco mais do que o Santuário teve com despesas.
“A nossa expetativa para 2022 é solidificar a situação económica do Santuário, com algum conforto administrativo. Continuamos a progredir, mas ainda sem chegar aos valores de 2019”, afirmou Carlos Cabecinhas à Renascença.