A derrota de Portugal com a Coreia do Sul desperta "fantasmas" antigos e evidencia a razão de uns jogadores serem titulares e outros não. É a conclusão dos comentadores da Renascença depois de a seleção nacional perder, por 2-1, com a equipa de Paulo Bento, na última jornada da fase de grupos do Mundial 2022.
Jorge Silas lembra que faltavam jogadores importantes em campo - Fernando Santos rodou meia equipa, dado que o apuramento para os oitavos de final já estava garantido - e que "faltam dinâmicas" entre os jogadores menos utilizados.
"Os jogadores que entraram, como toda a equipa, não tiveram um nível muito alto. Em geral, notou-se que foram demasiadas substituições e por alguma razão jogam uns e não jogam outros. As nossas segundas linhas são boas, mas são boas para se tirar um e meter outro ou para se tirar um e meter dois, não para tirar seis e meter seis. O contexto também levou a isto, de podermos perder e não sermos eliminados. Os jogadores já pensavam que o jogo ia acabar 1-1 e que passaríamos à mesma e estava tudo bem, e acabámos por sofrer", salienta.
O treinador, que conta com passagens pelo Belenenses SAD, Sporting, Famalicão e AEL Limassol, para além de ter sido internacional português enquanto jogador, considera que a seleção nacional gerou perigo "quase sempre" através de Diogo Dalot. Aliás, se há jogador que terá conquistado um lugar para os próximos jogos é o lateral-direito do Manchester United, que frente aos sul-coreanos empurrou João Cancelo para a esquerda.
Silas adverte, contudo, que se Dalot ganhar um lugar no onze o sacrificado deverá ser Raphael Guerreiro: "Na minha opinião, seria Dalot com cancelo na esquerdo. Não acredito é que seja Dalot e Guerreiro. Acredito que o Dalot poderá entrar pelo jogo que fez, mas seria sempre Dalot e Cancelo."
Vasco Seabra também acredita que Dalot poderá ter conquistado a titularidade, o que "acrescentará qualidade à equipa". O antigo treinador de Marítimo, Paços de Ferreira ou Boavista acrescenta os nomes de Vitinha e António Silva à lista de jogadores que deverão, daqui para a frente, ter mais minutos.
"Voltaram a corresponder. Apesar de termos sofrido dois golos o António [Silva] esteve muito bem, manteve serenidade e um registo muito alto de competência e eficiência. O Vitinha quanto mais o jogo acontece mais ele é preponderante e penso que, com mais gente de envolvência à volta dele, mais oportunidades ele poderá ter para poder acrescentar e fazer a bola chegar ao último terço. Ter João Félix, Bruno Fernandes e Bernardo e poder ter o Vitinha mais próximo destes penso que também elevará o nível de jogo", opina.
Para Rui Miguel Tovar, "seria uma surpresa Dalot não jogar" depois do jogo com a Coreia do Sul.
Numa análise ao jogo "muito insonso" da seleção portuguesa, o comentador da Tertúlia Bola Branca considera que "começar o jogo bem e acabar desta maneira é um pouco ressuscitar os fantasmas da Sérvia", de quando Portugal perdeu a oportunidade de se apurar diretamente para o Mundial (teve de ir ao "play-off").
"Foi a mesma coisa, um golo do Renato Sanches a abrir e depois o 2-1 da Sérvia na Luz, ao cair do pano. Aqui é a mesma coisa. E com a Espanha [na Liga das Nações], se bem que é diferente, porque estava 0-0 e ficou 0-1, portanto, não houve nenhuma reviravolta. Dá-me sempre galo perder um jogo que começo a ganhar", lamenta.
Silas assinala que Portugal precisa de melhorar nas bolas paradas, embora considere que, com a entrada de jogadores como Rúben Dias e William Carvalho no onze, o problema será mais facilmente resolvido.
"Já tinha havido, antes do golo [1-1 para a Coreia], um lance contra nós num canto em que passámos por dificuldades. Contra o Uruguai também houve uma ocasião contra nós assim. Bolas paradas, especialmente cantos defensivos, são um dos pontos em que temos de melhorar", salienta.
O jogo foi decidido por um golo em contra-ataque após canto favorável a Portugal. Silas entende que ficou uma falta por fazer, para travar o contra-ataque conduzido por Heung-min Son. Ainda assim, diz que, num contexto em que a seleção nacional precisasse do resultado "aquela falta teria sido feita, de certeza absoluta".
Os comentadores não foram para casa sem analisar a atitude de Cristiano Ronaldo no momento da substituição, aos 65 minutos.
O capitão da seleção nacional disse, como se percebe pelos movimentos labiais, "estás com muita pressa para me tirar", juntamente com dois expletivos. Palavras que pareciam direcionadas para Fernando Santos, ainda que o selecionador tenha afirmado, mais tarde, que tinha sido para um coreano. O avançado subscreveu esse entendimento, explicando, na zona mista, que foi resposta a um jogador da Coreia do Sul que o tinha mandado sair mais rapidamente do relvado.
"Eu acho que era para o coreano, ele sabia que o Paulo Bento ia traduzir", brinca Silas, para quem a responsabilidade está toda do lado de Cristiano Ronaldo e Fernando Santos não deixará de contar com ele.
Vasco Seabra realça que o comportamento de Ronaldo "podia e devia ter sido diferente, até porque todos sabemos a ligação que existe entre o selecionador e o capitão". Uma atitude assim "nunca é saudável", especialmente porque o avançado "representa um exemplo para todos".
"Não será saudável, obviamente, mas ele é o capitão e toda a gente percebe que é um jogador importante para o grupo. Penso que se irá retratar", prevê.
Rui Miguel Tovar admite que o comportamento "choca" e "é escusado", também tendo em conta que a saída de Cristiano Ronaldo de campo, num jogo em que pouco se decidia, "é dosear para futuros jogos".
Assim, na opinião do comentador, o comportamento "é só incendiar" e a justificação oficial "não interessa, porque já o fez e o fazer é que está errado".
"É isso que vai provocar confusão nos próximos dias, uma confusão que devia ser inexistente. Até terça-feira vai falar-se muito disso, quando era escusado", sustenta.
Fernando Santos tem, agora, três dias para limar arestas e tomar decisões sobre eventuais alterações no onze para a fase a eliminar do Mundial 2022. A seleção nacional disputa os oitavos de final na próxima terça-feira, às 19h00, jogo que terá relato na Renascença de Carlos Dias no Qatar e acompanhamento, ao minuto, em rr.sapo.pt.