Foi a 18 de março de 2014 que a Crimeia foi anexada pela Rússia, numa altura de crise política na Ucrânia.
O território peninsular manteve-se sob o controlo do Kremlin desde então e é visto como o primeiro passo dos eventos que acabaram por provocar a invasão da Ucrânia, em 2022.
Dez anos depois, o Major-General Filipe Arnaut Moreira recorda a invasão da Crimeia pela Rússia, em 2014, como um episódio em que a “Federação Russa se sentiu muito confortável”, perante uma “certa passividade ocidental”.
O oficial da NATO explica que a Europa “não estava preparada, do ponto de vista militar”, para responder à ameaça, pelo que optou por “mostrar o desagrado”, através da aplicação de um conjunto de sanções económicas, quando se sabe que “não é possível conter uma invasão apenas com sanções. Para isso é preciso ter força militar no terreno”.
Para Arnaut Moreira, a resposta europeia foi “a reação típica de quem não tem nada para oferecer”.
Em entrevista à Renascença este especialista militar lembra, contudo, que esta invasão da Crimeia, há 10 anos, "não foi como aquela que se verificou em Fevereiro de 2022”, com as tropas russas a atacar território ucraniano, porque "ao abrigo de um conjunto de acordos entre a Federação Russa e a Ucrânia, havia tropas russas estacionadas no interior da Crimeia. Não se tratou de uma invasão convencional. Foi antes uma tomada de poder através de forças militares que já se encontravam no teatro de operações".
O também professor de Geopolítica e Geostratégia recorda que nesse dia 18 de março de 2014, os soldados russos na Crimeia “apareceram sem os distintivos que os identificava como russos”, tendo ficado conhecidos como “os homenzinhos de verde”.
Estes militares “já estavam colocados nas unidades russas” que existiam na península ucraniana, pelo que “não se tratou de uma invasão no sentido clássico, mas de uma tomada de poder interno a partir de forças militares que já existiam no local”.
“Essas forças, à ordem de Moscovo, tomaram os órgãos do governo, os edifícios e as instituições com uma enorme facilidade”, porque, por um lado, o número de militares "era muito superior às tropas ucranianas”. Por outro lado, entre os militares de Kiev "havia cidadãos que se identificavam mais com a Rússia do que com a Ucrânia”, pelo que não houve “uma oposição de natureza militar que permitisse controlar a situação”.
Solução para a guerra não está numa "invasão” ucraniana da Crimeia
Atualmente, Arnaut Moreira não acredita que as tropas ucranianas irão avançar para uma invasão da Crimeia.
O oficial da NATO diz, à Renascença, que Kiev irá “procurar criar condições para que a Crimeia seja entendida como sendo de menor valor estratégico”, ao fazer sentir, à Rússia, “que todos os meios militares que forem ali colocados serão alvos legítimos”.
“Do meu ponto de vista, a guerra não se vai resolver através de uma invasão clássica da da Crimeia”, conclui o especialista.