A dança é uma linguagem internacional e a prová-lo está o grupo Ensemble 23, que reúne quase 50 jovens de 35 países que vão animar três momentos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Vão dançar na cerimónia de acolhimento ao Papa Francisco e na Via Sacra, no Parque Eduardo VII e na vigília no Parque Tejo.
Juntar este grupo em Lisboa exigiu muita logística e e montar esta operação teve a mão de um engenheiro. Ao mesmo tempo que se licenciou em engenharia, João Cardoso manteve-se ligado às artes performativas e por isso sentiu o apelo de ser voluntário na JMJ e trabalhar com o Ensemble 23.
Na pausa de almoço do ensaio, João Cardoso conta que tem jovens de várias latitudes. “Vamos do Zimbabué à Nigéria, à Guatemala, Espanha, Itália, por isso conseguimos juntar muitas culturas e para eles se juntarem tiveram de passar por vários processos, desde vistos que foram necessários requisitar, montagem de espaços de ensaios, montagem de palcos”.
Os ensaios de oito horas por dia decorrem na Escola 2+3 da Galiza, em Cascais. É aqui que pela primeira vez o grupo de jovens recebe os fatos coloridos com que irão dançar. Toda vestida de cor-de-rosa está Natália. Ela tem 21 anos, é violinista e chega da Eslováquia.
Questionada sobre a sua motivação, Natália é categórica: “Quero usar os meus talentos para Deus, dar-lhe tudo o que posso. Essa é a minha missão”. Esta jovem com marcas da adolescência na cara admite que nunca pensou em ver o Papa “tão próximo” como irá ver no dia 3 de agosto, na cerimónia de acolhimento no Parque Eduardo VII, ou Colina do Encontro como a JMJ lhe chama.
“Sinto que é um milagre e um grande presente de Deus, por isso estou satisfeita e agradecida do fundo do coração” diz à Renascença Natália sobre esta proximidade que estes jovens do Ensemble 23 terão quanto a Francisco.
De Espanha veio Pablo. Ele tem 25 anos, e é, além de bailarino da dança espanhola, estudante de Teologia da Universidade Eclesiástica de Madrid. Dançar no Ensemble 23 e ver o Papa é para ele o melhor de dois mundos. “Posso conjugar a formação teológica com a formação artística e pô-las ao serviço do Senhor”, destaca Pablo.
Vestido de laranja e azul forte, este madrileno explica à reportagem da Renascença que irá colocar o seu cunho na coreografia. “Vou tentar fazer alguns detalhes do flamenco, e da dança espanhola, porque o bonito desta multiculturalidade da Jornada é que não significa que sejamos todos iguais e que façamos o mesmo. Cada um pode trazer a sua riqueza ao conjunto do que vamos fazer. Isso é o interessante, sermos individuais e coletivos ao mesmo tempo”.
De muito mais longe vem Glycel. Ele é estudante de dança e vem das Filipinas. Aos 22 anos esta jovem explica-nos que queria aproveitar as férias de verão para uma experiência de vida. A sua irmã é voluntária na JMJ de Lisboa, tal como já foi em outras, e resolveu por isso juntar-se à irmã em Lisboa.
Ela que estuda dança no Dubai numa escola internacional explica que irá dançar com “paixão”. “Os nossos coreógrafos dizem-nos sempre isto: Mais do que dançar em frente ao Papa, é tocar a vida das pessoas e fazê-las perceber coisas nas quais não pensaram. É espantoso sermos nós o meio para isso!”, explica esta jovem que quando ensaia expressa com o corpo a alegria de estar neste projeto.
Entre o grupo do Ensemble 23 há muitos jovens portugueses, a iraquiana Sofia que já conhecemos noutra reportagem e muitos outros, de diferentes expressões culturais. Ao dançarem mostram com o corpo essa marca das suas culturas.
Além da cerimónia de acolhimento, o Ensemble 23 vai também dançar, no dia 4, a Via Sacra e no dia 5, a vigília, no Parque Tejo, ou no designado Campo da Graça. Na autoria destas criações está Matilde Trocado. Esta autora que no passado fez um musical dedicado ao Papa João Paulo II confessa que se sente “fora de pé”.
“Eu faço trabalho em teatro há muitos anos, e em espetáculos, mas isto é de uma escala que nenhum de nós nunca fez na vida. Fui desafiada, e foi-me entregue, assim, de uma forma que me deixa muito pequenina e grata” afirma a criadora.
A ajudar Matilde está outra coreografa, Sofia Loureiro que trabalhou na coreografia da Via Sacra. Ela explica-nos que os jovens do Ensemble 23 irão dançar as 14 estações. “Cada estação está associada a um tema que foi levantado pelos jovens. São problemáticas dos dias de hoje. Abordam o bullying, a solidão e a saúde mental”.
Estes temas serão tratados num dos momentos mais solenes da JMJ de Lisboa e que vai acontecer entre as 18 e as 20h e que será presidida pelo Papa Francisco.