O engenheiro Fernando Carvalho Rodrigues lembrou, 30 anos após o lançamento do primeiro satélite português, que Portugal conseguiu alcançar "soberania no espaço" em 25 de setembro de 1993.
Há três décadas, o PoSAT-1 entrou em órbita depois de ter sido lançado no voo 59 do foguetão europeu Ariane 4 a partir do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.
Em entrevista à agência Lusa, Carvalho Rodrigues explicou que o satélite foi um projeto industrial que servia para "cobrir o mundo todo".
"É um momento em que Portugal tinha soberania no espaço, porque fazia, por exemplo, as comunicações, incluindo "e-mails", das nossas Forças Armadas nas (missões das) Nações Unidas por todo o mundo. Angola, Bósnia durante a guerra, Marinha e Estação Naval dos Açores", realçou.
De acordo com o físico, o PoSAT-1 foi um projeto de aprendizagem sobre "como "fazer e operar satélites".
Na altura, o projeto teve um custo de cerca de cinco milhões de euros, financiados pelo Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP), Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), Efacec, Alcatel, Marconi, Ogma, Universidade da Beira Interior e Cedintec.
Considerado o pai do primeiro satélite português, o professor catedrático recordou que o projeto PoSAT-1 surgiu de uma conversa com um consultor, do qual já não se recorda o nome, na Praça Luís de Camões, em Lisboa.
"Contei-lhe o que havia de poderoso industrialmente em Portugal. Havia a Efacec, havia a Alcatel, que fazia semicondutores, (...) havia a Ogma, que fazia materiais compósitos, havia a Edisoft, que fazia telecomunicações. E ele disse: Porque é que não expandem essa atividade para ir ao espaço e fazem um satélite, porque todos os componentes vocês já sabem fazer, o sistema todo é que têm de aprender?", adiantou.
E foi a partir dessa altura que Carvalho Rodrigues propôs ao antigo ministro da Indústria e Energia Mira Amaral a construção do satélite, que juntou industriais e financeiros.
"Foi nesse momento que me nasceu na cabeça a ideia", salientou.
Questionado sobre a aposta portuguesa e europeia no espaço, 30 anos depois do lançamento do PoSAT-1, o cientista afirmou que tem de haver uma reindustrialização.
"A Europa toda atrasou-se décadas relativamente a todo o resto. A Agência Espacial Europeia onde havia tanta esperança não tem um meio para colocar um astronauta no espaço", anotou. .
Para o físico, apesar de algumas fragilidades no interesse pelo espaço, "Portugal tem capacidade para lançar um satélite daqui a meia dúzia de dias, desde que haja os fluxos financeiros necessários".
Sobre o futuro no espaço, Carvalho Rodrigues referiu que "a humanidade vai passar a viver numa assoalhada".
"Nós vivíamos numa palhota. (...) Uma espécie que viva só num planeta não tem futuro. Não tem. Todos os planetas acabam. Nós sabemos o suficiente e temos a biologia para fazer viagens no espaço", frisou.
Segundo Carvalho Rodrigues, Portugal "pode fazer maravilhas" no estudo da adaptação biológica do ser humano no espaço.
"Vai ser necessária. O futuro é como inventar uma nova estrada. Desde que a gente [humanidade] inventou uma estrada, construiu uma rede e o mundo passou a ser diferente", sublinhou.
Na segunda-feira, a Agência Espacial Portuguesa celebra o 30.º aniversário do lançamento do satélite com a realização da conferência "30 anos de PoSAT-1: O Passado e o futuro de Portugal no Espaço", no Auditório do Centro de Congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.