O advogado de Ricardo Salgado manteve o silêncio sobre a eventual presença do ex-banqueiro no julgamento que esta terça-feira começou no Campus da Justiça, em Lisboa, com a audição das duas primeiras testemunhas.
O arranque do julgamento do antigo presidente do BES, acusado de três crimes de abuso de confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros, foi marcado pela ausência do réu e pela parca informação prestada pelas testemunhas arroladas pela defesa.
“Não vamos transmitir aqui, a vocês, as nossas questões processuais. É por respeito pelo tribunal. O Dr. Ricardo Salgado tem muito respeito pela justiça e pelo tribunal. Já explicámos ao tribunal as razões, tem suporte legal, foi autorizado pelo tribunal e mais não poderei dizer sobre o assunto”, afirmou o advogado Francisco Proença de Carvalho quando questionado por jornalistas sobre a ausência do seu cliente.
Os advogados de defesa já tinham avançado que Ricardo Salgado não deveria estar presente na primeira sessão devido à sua idade, 77 anos, e ao risco que corria perante a pandemia de Covid-19.
No entanto, o advogado Adriano Squilacce disse posteriormente que a ausência de Salgado durante a audição das testemunhas poderia conduzir a nulidades e irregularidades, mas admitindo que tal opção estava justificada pela lei em tempo de pandemia.
“Tudo o que dissemos na sessão anterior e no processo fica no processo, o tribunal tomará as decisões e, como sempre disse, cada vez que não concordemos com alguma coisa agiremos nos termos legais”, acrescentou esta terça-feira Francisco Proença de Carvalho.
Sobre Ricardo Salgado ter de estar presente na última sessão, Francisco Proença de Carvalho voltou a preferir o silêncio: “Não vou dizer mais nada sobre isso”.
“É a lei que dá esse direito a Ricardo Salgado e a todas as pessoas que estejam nas condições dele. Não fomos nós que inventámos a lei. Todos nós sabemos a situação em que o país está. O Tribunal considerou válidos os nossos argumentos e não faremos mais do que respeitar a lei”, acrescentou.
Em declarações a jornalistas no final da primeira sessão, o advogado saudou a atuação do Ministério Público por ter pedido tempo para analisar a contestação apresentada pela defesa.
“Essa contestação tem factos e argumentos suportados por vasta prova documental que demonstram aquilo que sempre temos dito que é a inocência do Dr. Ricardo Salgado. A única coisa que pretendemos é que o tribunal analise isso e se assim acontecer com toda a objetividade, serenidade, imparcialidade e independência como esperamos não temos dúvidas de que o Dr. Ricardo Salgado será absolvido neste processo”, concluiu.
A sessão de esta terça-feira começou às 14h30 com a audição de Francisco António Machado da Cruz, de 62 anos, que foi administrador da ES Entreprises e que atualmente está desempregado.
Depois de Machado da Cruz foi a vez de Michel Canals, atualmente reformado e ligado à Akoya, uma sociedade suíça de gestão de capitais, que tinha entre os seus clientes Ricardo Salgado e Hélder Bataglia.
O julgamento prossegue na quinta-feira com a audição do inspetor tributário Paulo Silva.
No final da audição desta terça-feira, o juiz Francisco Henriques programou ainda a audição de várias testemunhas arroladas pela defesa para a primeira quinzena de setembro, estando agendadas mais sessões até ao final desse mês.