Restaurante solidário do CASA serve quase 200 refeições por dia
05-12-2019 - 06:29
 • André Rodrigues

Nos últimos 10 anos, mais do que duplicou o número de sem-abrigo que recorrem à ajuda alimentar de instituições, só na Baixa do Porto. Esta quinta-feira celebra-se o dia Internacional do Voluntariado.

É quarta-feira e faltam poucos minutos para as 20h00. A noite arrefece e cruzar a Praça da Batalha é um duro confronto com a realidade.

Há sem-abrigo que se encolhem debaixo dos cobertores sob a fachada do Teatro Nacional São João, enquanto o resto da cidade vai regressando a casa após mais um dia de trabalho.

Ali mesmo, paredes meias com a Batalha, na Rua do Cimo de Vila, os rostos impacientes que aguardam a abertura do restaurante solidário contrastam com os turistas que se esgueiram pelos becos do centro histórico à procura de um restaurante típico.

Quatro metros mal medidos separam os dois passeios. O fosso emocional, esse, não tem medida.

Os voluntários asseguram o funcionamento de dois restaurantes solidários: um na Batalha outro no Hospital Joaquim Urbano. Esta noite, o restaurante da Baixa espera cerca de 200 pessoas para jantar.
No espaço de dez anos, o número de sem-abrigo a pedir ajuda mais do que duplicou só na Baixa do Porto

O turismo fez com que a cidade crescesse, mas está a empurrar dezenas, centenas de pessoas para a indigência.

É o caso de Daniel. Dorme todas as noites na Ribeira, vive com 180 euros de Rendimento Social de Inserção e não desiste de encontrar um teto, mas continua à espera. E sem resposta.

Daniel comove-se, faz uma pausa. Dez anos de rua deram-lhe bons amigos. Mas isso não preenche o vazio por não ver as filhas nem a família que, segundo diz, “vale zero”. Além disso, aos 40 anos, ainda está preso à droga e perdeu o emprego.

Mas esta noite há qualquer coisa diferente. No meio da sala, estão meia dúzia de sacos com luvas, meias e kits de higiene.

Oferta da Associação Sindical dos Juízes. É o rosto humano da justiça que, tantas vezes se cruza com pessoas sem abrigo nos tribunais, nem sempre pelos melhores motivos.

A noite chega ao fim. Há mais sorrisos e semblantes aliviados. Aqui não é só a fome que se mata. É a solidão dos dias que se tenta afogar, tanto quanto isso seja possível.

Amanhã e depois, todos os dias, haverá mais refeições para partilhar e um ombro amigo para as horas mais difíceis.