O Lar do Comércio, em Matosinhos, assegurou este sábado que são "falsas e execráveis ultrajes" as acusações de maus-tratos que levaram o Ministério Público a abrir um inquérito, dizendo tomar todas as medidas para assegurar que "os utentes são bem tratados".
"Ninguém abandonou ou abandona a Instituição por falta de condições! Muito menos por falta de cuidados médicos e enfermagem suficientes e competentes! Não é verdade que exista a degradação da alimentação e muito menos da higiene e limpeza!", declara a direção da Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) numa Lusa enviada este sábado à Lusa.
Um grupo de sócios do Lar do Comércio, em Matosinhos, revelou, na sexta-feira, que os idosos lá instalados continuam a ser alvo de maus-tratos, tendo denunciado o caso à Segurança Social e Ministério Público (MP) que confirmou a abertura de inquérito.
Na denúncia que deu entrada dia 24 de fevereiro no MP de Matosinhos, os signatários e sócios daquela instituição alegam que esta "falta de condições" levou mesmo vários utentes a abandonar o lar, indicando que há "residentes que estão a ser sujeitos a maus-tratos traduzidos no fornecimento de comida em pouca e menor quantidade, em tratamentos médicos e medicamentosos e higiene pessoal deficientes.
Salientando desconhecer o processo de inquérito aberto pelo MP após estas denúncias, a direção do Lar do Comércio considera que estas "falsidades" visam "denegrir" a instituição onde os, utentes, garantem são bem tratados.
"A direção assumiu e assume, todos os dias, as medidas adequadas para garantir que os utentes são bem tratados, acarinhados e recebem tudo aquilo a que nesta fase da sua vida têm o devido e justo direito", asseguram, defendendo que as acusações que estão a ser imputadas à instituição carecem de provas.
Em resposta à Lusa, a direção do Lar do Comércio rejeita também que não tinham sido tomadas todas "as medidas adequadas e necessárias" ao controlo do "alegado surto de legionela no sistema de abastecimento de água da instituição.
Contrariando os relatos dos funcionários da instituição que falaram à Lusa, a instituição esclarece que "não foram assumidas medidas em apenas alguns chuveiros", como alegavam os funcionários ouvidos pela Lusa, mas em todo o sistema, o que representou "um investimento considerável, mas eficaz".
Acrescentam ainda que a situação foi "adequadamente conhecida e apreciada pela Inspeção da tutela, tendo a mesma sobre isso já se pronunciado".
Na sexta-feira, refugiando-se no anonimato, os funcionários e utentes que decidiram falar à Lusa, descrevem um cenário em tudo idêntico ao que as autoridades de saúde encontraram em 2020, ano em que morreram, segundo números oficiais, 24 utentes de covid-19 e em que até o Exército teve de intervir.
Num relato em tudo idêntico ao que foi apresentado por um grupo de sócios da instituição ao Ministério Público, os residentes vitalícios, que continuam a pagar mensalmente pelos seus espaços cerca de 350 euros, dizem ter sido "obrigados a sair para viver".
Também os funcionários que decidiram falar à Lusa, traçam um cenário dramático, com mais de 100 - mais de metade dos quais acamados ou sem autonomia - "deixados à sua sorte".
"Os idosos estão a morrer aos bocados por falta de cuidados", contou um funcionário à Lusa.
A direção do lar não reconhece, contudo, estas acusações, que consideram "abstratas", acusando os autores da denúncia ao MP de estarem envolvidos em processos judiciais criminais complexos.