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A decisão do Governo português sobre o “caso Skripal” está “em curso” e rege-se pela defesa dos interesses “nacional, europeu e da Aliança Atlântica”, mas também pela “autonomia, prudência e firmeza”, afirma o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“A medida que em cada momento se revelar mais conforme aos interesses nacionais portugueses, aos interesses europeus e aos interesses da Aliança Atlântica, essa será a medida que nós tomaremos, porque são esses os três critérios: o nosso interesse nacional, enquanto país que fala com toda a gente no mundo e que tem uma enorme facilidade de contacto com todas as grandes regiões do mundo, e os interesses europeu e da Aliança Atlântica”, afirmou esta terça-feira Augusto Santos Silva, em declarações à Lusa.
Assim, as medidas que o Governo português decidir “sem precipitação, com autonomia, com prudência, mas também com firmeza", sublinhou o governante, "são as que melhor respondam a estes três critérios”, acrescentou.
Os Estados Unidos e cerca de 20 outros países, entre os quais 16 da União Europeia (UE), anunciaram a expulsão, no conjunto, de quase uma centena de diplomatas russos dos seus territórios, em apoio ao Reino Unido.
Na semana passada, Londres expulsou 23 funcionários russos como represália pelo alegado envenenamento com um gás neurotóxico do ex-espião russo Sergei Skripal e da sua filha, em Salisbury, no sul de Inglaterra, a 4 de março.
Em comunicado, o Governo português afirmou esta segunda-feira tomar “boa nota” da decisão concertada por vários Estados-membros da UE, mas defendeu que a “a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”.
“Não ignoramos as nossas responsabilidades face aos nossos aliados"
“Portugal acredita que o instrumento mais importante para reagir à altura da gravidade desta situação é o instrumento multilateral, quer no quadro da União Europeia quer no quadro da NATO, e assim temos procedido nas reuniões que têm havido”, reiterou hoje o chefe da diplomacia portuguesa.
O processo, salientou, “está em curso” e a política externa portuguesa tem a “posição prudente e aberta que a caracteriza”.
“Nós não ignoramos as nossas responsabilidades face aos nossos aliados, não ignoramos a nossa responsabilidade particular face ao Reino Unido – desde o início que manifestámos a mais profunda solidariedade – e temos em atenção também o que é que os diferentes Estados-membros vão fazendo”, comentou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português referiu que a decisão de mais de metade dos membros da UE de expulsarem funcionários russos é tomada “em consideração” por Lisboa por se tratar de “um elemento muito importante” para o Governo “formar a [sua] própria decisão, que há de ser tomada”.
Portugal, acrescentou Santos Silva, quer manter a sua “característica capacidade de procurar nunca quebrar pontes, de manter sempre uma ligação, porque é nessa lógica multilateral em que mais se revê, na procura de ir enfrentando os problemas e as ameaças e ir convencendo os interlocutores que uma ordem internacional baseada em regras e conforme ao direito internacional e o cumprimento do direito é a melhor garantia de paz e de segurança no mundo de hoje”.
Questionado sobre críticas à posição portuguesa, nomeadamente por se demarcar das decisões de aliados tradicionais como o Reino Unido e os Estados Unidos, Santos Silva negou que haja um “desalinhamento”.
“Os EUA e o Reino Unido sabem bem quão confiável é Portugal enquanto aliado. Conhecem também as características da política externa portuguesa e sabem que a sua insistência no quadro multilateral e na ideia de que em nenhuma circunstância se deve perder a esperança de manter formas de comunicação que permitam convencer os interlocutores da vantagem de seguir a lei e o direito os ajuda também a eles”, salientou.
O ministro destacou que cada Estado-membro “é soberano no ponto de vista bilateral”, referindo que Portugal respeita as decisões dos restantes países, quer os que decidiram expulsar quer os que optaram por não o fazer.