Presidente da Cáritas defende aumento do salário mínimo com cautelas
27-11-2017 - 06:29
 • Susana Madureira Martins

Eugénio Fonseca aconselha o Governo a não entrar em loucuras de satisfazer a todos, mas, se o fizer, que favoreça os mais vulneráveis.

Na recta final da discussão e votação do Orçamento do Estado, o presidente da Cáritas Portuguesa apela à sensatez do Governo para agir com cautelas. Isto, porque a crise “ainda está instalada”.

Assim sendo, o que é “desejável” para Eugénio Fonseca é que o salário mínimo nacional (SMN) seja aumentado.

Questionado pela Renascença sobre se essa subida deve chegar aos 600 euros já em Janeiro, tal como defendem o PCP e o Bloco de Esquerda, o dirigente da Cáritas responde que desejava que fosse, mas reconhece ao mesmo tempo que “é melhor alguma cautela para consolidar o crescimento que existe agora, tenuamente”, diz.

Isto tudo para evitar que o país entre “em problemas que possam vir a agudizar a crise que ainda está instalada”, rematando em relação ao Orçamento do Estado que “não chegámos bem àquilo que era o desejável, porque está em aberto a questão do SMN”.

Tendo em conta que esta segunda-feira decorre a votação final global do Orçamento do Estado, Eugénio Fonseca diz que “não é possível um orçamento ideal” por causa das limitações financeiras e porque o documento tende a ser “sempre favorável para umas partes, menos favorável para outras”.

O presidente da Cáritas Portuguesa considera mesmo que esse documento “ideal” não existe dada a existência de “forças corporativas que têm maior preponderância até na influência do próprio orçamento”.

Questionado pela Renascença sobre se prevê que 2018 seja um ano de reivindicações que exponham mais o país a essas “exigências corporativas”, Eugénio Fonseca é lapidar: “Tudo é possível”.

Portugal foi habituado a ter governos para as eleições que se seguem e não governos que governem a pensar no bem comum e, “quando assim é, qualquer governo está sujeito a que aumente a reivindicação”, sustenta.

O presidente da Cáritas acusa mesmo a existência de “sectores em Portugal que têm uma capacidade reivindicativa muito mais forte, porque determinam até a paragem, ou não, da economia”, sublinhando que “isso tem sido escandaloso, essa discriminação tem sido escandalosa”.

O presidente da Cáritas deixa, por isso, o conselho ao Governo de que “tem de ter a sensatez de perceber que o poder não se pode conquistar a qualquer preço”, avisando que é preciso pensar “a longo prazo, no bem de todos e não pode entrar nessas loucuras de satisfazer a todos”. E se há a satisfazer alguém, diz, “que sejam os mais vulneráveis”.

Por isso, ao longo do próximo ano Eugénio Fonseca aconselha a que não se dê “resposta às tais exigências corporativas e a devaneios” que possam levar “o país para dívidas que depois prejudicam a todos, sobretudo os mais pobres, que é sempre o que acontece”.

Mas, para Eugénio Fonseca nem tudo é mau: as alterações dos escalões do IRS são positivas e “podem aproximar mais em termos de justiça social, porque a distribuição da riqueza faz-se por essa via, por via dos impostos”.

Fora do Orçamento do Estado, o presidente da Cáritas diz que está “muito preocupado com uma coisa que também devia preocupar o Governo: o aumento da taxa de endividamento das famílias em termos de consumo e de bens que está a verificar-se em Portugal”.